sábado, 10 de julho de 2010

Pra começo de conversa os meus medos geralmente tem nome e um número de telefone, que quase sempre está na lista de últimas chamadas recebidas. Não entenda mal, eu não me relaciono com bandidos ou algo do tipo, é que essas pessoas, que acionam meu botão "perigo", tem um conjunto de características que me intrigam e me encantam, é sinal de que futuramente estarei fazendo planos para nossas bodas de ouro.
Costumo fazer planos até para o moreno, bonitinho, sem-graça, que passou na esquina da padaria me dando um sorriso. Eu faço planos pra tudo, por tudo, pra todo mundo, a qualquer hora, basta uma situação surgir e minha cabeça solta uma série de bobagens surreais que nunca vão acontecer e eu sei disso.
Imagine o que minha cabeça pinta com pessoas intrigantes e encantadoras, que não tem motivos concretos pra me quererem com tanta convicção.
Pra começo de terceiro parágrafo, o dono do último número das chamadas recebidas é tão discreto/modesto que até o verde musgo dos olhos dele ficam castanhos em fotos pra não chamar a atenção, que ele acha não merecer. O meu medo tem cabelos lisos batendo nos olhos, fazendo com que ele dê aquela mexidinha tão charmosa que a gente só vê em filme, é tudo involuntário. Ele não é robusto, nem alto, nem lindo, mas ele é de uma presença tão forte que convence até quem não repara. A beleza em si não está na beleza do todo, mas no conjunto do sorriso sacana, do olhar que pede alguma coisa que eu ainda não dei, da boca pequena, ilhada pela barba, que hora me chama e hora finge não me querer, sem falar dos dentes tortinhos que quebram toda a expectativa do charme 100% e da sensação de estar com um Johnny Depp brasileiro.
Ele é um cara normal, que se passasse do meu lado em alguma festa não chamaria a minha atenção, e que se me parasse em alguma festa não passaria de alguém com quem brinquei um pouco de conquistar, e que se me beijasse seria mais uma diversão de sábado- eu só saio nos sábados. O medo está na hora em que ele passa a me ligar todas as noites pra saber como eu estou, apesar de ter tido um dia de cão, cheio de ocupações, ele ainda ouve o dia mais ou menos, as reclamações da escola e as tiradas sarcásticas, que tive. Está, quando ele fala que está com saudade e reclama das mensagens que deixei de mandar entristecendo o dia dele. Quando ele diz que sou linda e me deixa segura de mim com exemplos convincentes e detalhados do que fazem ele achar isso. Ele faz com que eu me sinta linda a cada conversa. Ele não quer apressar as coisas e andar de um modo desesperado com o relacionamento, porque os outros não deram certo assim e eu sou legal demais pra ser desperdiçada. Mas mesmo assim ele não deixa de pedir minha mão em casamento as nove horas das noites de sextas-feiras. Ele não deixa de ter ciúmes de uma cara que achei bonito ou das ligações que recebo, nem de dizer que gosta de mim e que a gente combina. A gente combina.
Ele me deixa confortável, porque, assim como eu, ele se preocupa com o que as pessoas sentem e ele deve saber o que é agonia. Ele é o tipo do cara de quem você espera que a mesma mão que ele passou na sua bunda seja a que ele vai segurar a sua mão, quando você ficar nervosa. Ele quer a minha opinião, ele precisa da opinião de alguém pra sair do lugar e por coincidência eu sei bem o que é isso e eu gosto de dar o meu piteco. Como diria o meu horóscopo: o relacionamento de gêmeos com áries é um dos mais proveitosos da astrologia. Ultimamente meu horóscopo tem acertado.
Para os canalhas de plantão ele não passa de um charlatão que quer arduamente me comer em todos os cômodos da casa dele. Bom, não é que ele não queira, é que na verdade ele não faz o tipo comedor de todo mundo, apesar de ser pau pra toda obra- if you know what I mean- ele faz mais o tipo que guarda energia pra alguém que valha a pena e, creio eu, quando ele não encontra, ele come o que tem, eu faria a mesma coisa. Essa é a questão, eu entendo o que ele quer dizer, o que ele faz, o que quer, porque eu também digo, faço e quero as mesmas coisas, as únicas diferenças notavéis entre nós no momento, além da boa memória que me falta, é a ambição e a virgindade- que falta nele.
Para as fominhas de contos e despojadas de plantão ele é a inspiração quase perfeita, só falta alguma história inédita que ele tinha que ter me contado pra coisa ficar melhor. Bom, não falta, ele na verdade me contou algo que eu nunca tinha ouvido falar antes. Ele acha que em sua essência ele continua sendo a mesma pessoa de 14 anos atrás e, juro por Deus, ele passou em todos os meus teste psicotécnicos, ele é racional e inteligente, mas ele acha que em suma continua, por dentro, tendo oito anos de idade, com asas aparadas é claro, mas o espírito novo. Se você não percebeu eu tenho um Peter Pan particular. E se você não percebeu, em todos os meus textos, eu sou a Wendy.
Pelo amor de Deus, ele apareceu pra mim depois de um vendaval, como a calmaria, me oferecendo o bom, me dando a mão sendo ele mesmo, apenas isso. Ele é de gêmeos em um ano que áries está passando por mudanças espirituais que fazem com que fique cada vez mais perto do entendimento do mundo, das  pessoas e da calma. Ele fala, enquanto eu me calo por ter perdido a manha da conversa. Ele me acha linda mesmo eu estando com um blusão surrado e uma calcinha que parece uma cueca. Ele me quer bem pra poder ficar bem. Ele sou eu na versão avessa, avulsa e quentinha.
O ano conspira a favor da gente, a astrologia conspira a favor da gente, as topadas que demos conspiraram em nosso favor, os nossos jeitos conspiram a favor da gente, até a Disney nos juntou nessa história toda.
Imagine você, se eu já fiz planos pro menino da esquina, o que farei com ele?

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