sábado, 20 de novembro de 2010

A pior morena de todas

Sou justamente um estranho
E no que entranho
Posso sumir

Mas, sou claramente o tamanho
Do vazio que existe, em cada arranho
Dentro de ti.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Nem é por essa história de amor próprio, mas é por tantas histórias que me contaram de finais felizes.
Nem é porque aceitei o fato de que nada dura, mas é por ter a possibilidade de perdurar.
Não foi pelas coisas que deram certo, porque quase nada deu certo, mas é pela sensação que me toma, podendo tomar outra pessoa também.
Não é esperança, força de vontade, ilusão. Mas é pela segurança de um caminho certo, que todos temos, independente de quem o cruze- e, acredite, muitas pessoas o cruzarão.
Porque deixar esse sentimento de fim se espalhar pelo corpo, pelo que sinto, isso sim é o fim. Deixa eu dizer uma coisa: só acaba quando eu disser que chegou.
Quantas e quantas vezes fiquei vivendo de "por enquanto..." e quantas outras vezes vivi de "por hoje..." Nunca estagnei em fase alguma, nem perdi meu caminho, posso ter me achado perdida, mas sempre soube para onde eu estava indo, porque é fluxo, porque é para lá que eu tenho que ir, eu vou como se já tivesse andado por muitas vezes esse mesmo caminho.
Namoros acabam, amigos vão embora, familiares morrem e a gente muda.
Eu preciso dessa saudade, é o resquício de mim que passou, todos que passaram pela minha vida são provas do meu caminho, eu sou de verdade, eu estou aqui e ninguém mais pode ser quem eu sou e fazer o que eu faço, porque ninguém mais sabe das minhas conversas comigo mesma, das coisas que eu penso e das que eu quero.
Nem é pelo amor próprio, mas é pela vontade do próximo que me permito existir, porque em algum lugar alguém, sem ser os meus pais, ou meus avós- ou qualquer pessoa obrigada a me amar(ou não)- me quer muito bem e eu de longe, acredite pessoa, te quero o mesmo bem também.
- Lia?
Odeio encontrar conhecidos no mercado, eu sempre estou com o mesmo short jeans rasgado na parte da frente e uma blusa bem velha, parecendo uma flanelhinha.
- Beto?
Pior ainda quando esse conhecido é um ex rolo seu, que te deixou com uma desculpa besta de não ter tempo e agora namora com a vizinha bonitona do sétimo andar.
-Nossa, quanto tempo né?!
É, desgraçado, faz tempo mesmo, tipo assim, desde que me deste um pé na bunda!!
-Verdade, muito tempo mesmo- sorriso simpático, Lia, estás ótima de vida, vai que ele acredita.
-Nunca mais nos falamos, como estás?
Muito bem, mas não graças a você. Hoje pago a última parcela da conta do analista que passei a frequentar depois que me largaste, quitei a dívida com a telefonia celular, porque precisei falar com as minhas amigas as duas horas da madrugada para que elas tentassem entender comigo o motivo pelo qual me largaste, olha, cuidado hein?! Esse negócio que de madrugada paga menos... É tudo mentira.
-Ah, tudo tranquilo, graças a Deus.- sorriso mais que simpático, Lia.
-Poxa, que bom, Lia, como sempre linda.
-Ah, que é isso?! Brigada.- E você, como sempre, mentiroso.- Mas me conta, como tão as coisas?- a piranha já engordou ou te colocou um chifre?
-Tudo bem, tô trabalhando em outro lugar agora, ganhando melhor. Indo pra academia, né?! Tem que ficar bonito.
Salafrário, comigo só queria saber de breja e farra, tava cansado demais pra correr na praça, não tinha dinheiro pra nada, mas eu rachava feliz a conta do barzinho, que por sinal nunca gostei de frequentar. Vagabundo.
-Olha, que bom, pelo visto a mulher botou banca, hein?! Tá certo!- certo devia ser o soco que era pra dar na tua cara agora, filho da mãe.
-É né?! Sabe como é...
NÃO, NÃO SEI NÃO, aliás me explica desde o começo toda esse fuzuê que foi nossa relação, vamo alí sentar no banquinho pra gente bater esse papo. Começa me explicando porque planejaste tantas coisas se não ias ficar para ver elas sendo realizadas, depois me faz entender o motivo de tanta palavra bonita antes de me levares pra cama e o motivo do teu celular, uma semana após o acontecido, ficar sem rede no meio da cidade grande. Se puder, me diz também onde foi que eu apertei teu tempo, já que pra outra estavas disponível. Me diz, Beto, porque a verdade é tão difícil de ser dita, o que custa dizer: ah, Lia, tu é legal, bacana, engraçada, mas não rola, não gostei, sabe essa coisa de química? Então, não aconteceu. Eu ficaria puta de uma vez e ia fazer milhares de macumbas pro teu membro cair e ficares careca, mas depois passava Beto. Porque tudo passa, mas a mentira continua sendo mentira por um tanto de tempo que machuca, a gente precisa ouvir, fala, a verdade é muito mais fácil de superar...
-É, sei bem como é.
-Então, foi muito bom te ver, Lia, nem esperava te encontrar. Tenho que ir, beijos linda.
-Tudo bem então, beijos, Beto.

esperançosa Esperança

O vento bateu e derrubou o copo de vidro, que se espatifou em pedaços relativamente grandes e alguns, consideravelmente, pequenos.
Esperança, levantou-se da cadeira e foi catar os pedaços visíveis e os pequenos cataria depois, antes de alguém pisar. Então, quando se ajoelhou e curvou o corpo para pegar os pedaçinhos, sentiu uma sensação de deja vú, como se já houvesse juntado cacos muitas outras vezes e não- definitivamente não- havia sido um sonho. Percebeu, então, que aqueles cacos de vidro eram parecidos com uns tantos cacos que ela havia juntado de seu antigo coraçãozinho de cristal.

Como tantas outras vezes, começou pelos cacos maiores, colocando-os no saco, depois grudou uns bem pequenos nas pontas dos dedos e os quase invisíveis varreu para debaixo do tapete, exatamente como fez com os caquinhos de seu coração, agora não mais de cristal.
Jogou os cacos fora, os do copo, não os do seu coração, esses foram colados com todo o cuidado e destreza que só os donos de corações estraçalhados tem. A experiência forniu firmeza manual e precisão para colar seus cacaréus e o tempo mostrou ser o melhor colador. Andava pensando em trocar seu coração em moisacos por algo mais firme, sólido, forte, que não quebrasse com facilidade ou que nem quebrasse, porque tinha sua vista cansada de tanto alguergar coração.
O coração de Esperança havia se tornado obra humana, não mais de Deus, de tanto que montou e foi desmontado, essas destruições, quase impossíveis de serem evitadas, vão enfraquecendo e Esperança tem medo de perder as estribeiras com esse desmonte todo e quiçá perder, também, sua esperança.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

"o nosso amor se transformou em bom dia"...

Honro minhas lembranças, não desprezo o tempo que dediquei para alguém, não ignoro os poemas que li, não esqueço os sonhos que tive. Na verdade, não tem nada a ver com você, tem a ver com nós. Eu e você separados somos planos diferentes.
Se isso te faz feliz, não irei te esquecer. Não irei jogar pela janela os minutos que construi olhando para você, nem vou apagar tua voz abafada debaixo das cobertas das madrugadas, não vou trocar a cor da sala que escolhemos, não vou mudar os móveis de lugar para tentar acabar com o espaço que sobrou na sua ausência.
Quando penso em você quase nada abala. Dói mais quando penso em nós. E quando penso em nós ainda te amo, por isso não vou trocar teu nome seguido de amor no telefone, pois ainda me incomoda a possibilidade de que encontre alguém melhor, porque ainda me desconcerta a idéia que você possa se abrir para outra pessoa. Mantenho seu nome entre meus favoritos, ainda seu sobrenome assina com o meu no final.
Você parou para pensar que tínhamos quase tudo para sermos felizes? Mas quase ainda era muita coisa na nossa história. O quase incluía o descuido, a pressa, os outros compromissos menos necessários, nunca lembramos da velha frase de que o urgente não é o mais importante. A culpa não foi minha, não foi sua. A culpa foi nossa, veio depois, veio quando não entendemos que estavámos juntos não para dividir, mas para somar.
A felicidade brilha, resplandece no vocabulário. Tem lugar garantido no dicionário, nos sonhos, nos projetos de vida. Sempre pensamos na felicidade como um dia, e não no dia em que nos encontramos e a paixão nos dilacerou. A gente esquece do valor das coisas. Mas eu não vou te esquecer, uma conquista deve ser guardada, pode ser uma pessoa inteira, pode ser um minuto em que os olhos se cruzaram. Cada um sabe o que é valioso para si.
O que conquistei de você me pertence.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

a perigo

Eu tô a fim do meu dentista. Ele me explica que basta usar a plaquinha nos dentes da frente que um ponto alto no centro acaba fazendo três pontos na boca e meu bruxismo vai pro saco. E eu fico muito a fim dele. A cadeira tem massagem e no telão passa o show da Rita Lee. Ele me pergunta de três em três segundos se eu estou bem. E eu fico com vontade de chorar de tanta emoção. Eu tô a fim do meu chefe. Ele devolve meu roteiro todo marcado de vermelho. Noventa por cento do que fiz vai pro lixo. Mas ainda assim ele manda um recadinho no e-mail. Que eu sou ótima. Tenho feito boas piadas. Tenho um lindo futuro e esse tipo de coisa. Me chama de essa é a minha garota. E eu percebo que ele faz isso pra ser delicado, afinal, ele sabe que essa vida é dura e da importância de ser gentil com mocinhas. E sim, ele me trata como uma menina. E sim, eu fico terrivelmente a fim dele. Porque eu já sou mulher noventa por cento do meu dia resolvendo tudo o que cai ou permanece dificilmente de pé. Na frente de um homem, às vezes, quando é possível, eu só quero encostar um pouquinho. Se for pra sentir a dureza da vida, já sinto bem e quase no limite, sozinha. E fico a fim dele. Porque ele sabe que pra engolir seco e refazer noventa por cento do roteiro eu preciso ser mulher. Então não custa ele me dar essa meia coxa de colo. Um descontinho da vida. Todo homem inteligente sabe disso. Ou todo homem gente boa. E eu fico terrivelmente a fim dele. Terrivelmente. Eu tô a fim do Raj. Mesmo ele sendo o fortinho bobo das outras novelas. E mesmo ele dançando que nem uma bichinha o tempo todo pela sala cheia de tapetes. Eu tô a fim do professor do Entre os Muros da Escola. Acaba o filme e fico triste. Eu queria namorar o cara, cuidar dele, fazer massagem nos pés, bater altos papos em francês sobre aquelas crianças feias e mal educadas. Eu diria a ele pra dar aula numa escola particular, com criancinhas cheirosas e sem berebas. Até porque eu tô precisando morar num lugar melhor. E a gente terminaria, dividiria os livros, os discos, as fotos. Porque ele seguiria com seu ideal de dar aulas para aquelas crianças feias. E então eu arrumaria outro namorado. Sem ideais mas super bem humorado e com um emprego mais chique. E esse namoro não duraria uma semana. Porque eu sou mesmo é a fim do meu professor idealista. Esse homem bom que eu tenho no fundo de mim. Culto, intelectual, cheio de vontade de melhorar o mundo, sem frescura. Melhor do que eu. O melhor de mim. E eu voltaria pro nosso apartamentinho pulguento fora do centro de Paris. E treparia com ele no lençol furado com cheiro de livro velho. Os dentes dele tipo os ingleses depressivos. E ele puto porque o marroquino sei lá das quantas mandou ele tomar no cu. E isso tem um charme que supera qualquer glamour. Nossa, como eu sou a fim do meu professor. Eu tô a fim do meu massagista. Eu sei que não é normal ele querer tirar nódulos energéticos dos meus seios. Eu sei. Eu sei. Esse é o meu segredo que eu jamais contarei a alguém. Mas eu tô a fim dele. Muito a fim dele. Eu tô a fim do meu colega do curso de dança. Ele sempre me ajuda nas posturas. Sua bacia, Tati. Sua bacia é estranha. Pobre colega de curso de dança. Se ele soubesse como piora. Eu tô a fim do meu gerente que vai me descolar o empréstimo. Eu fiquei mil horas me explicando pra ele. Veja bem, claro que eu vou pagar, não é porque tem um rombo na minha conta que eu não seja muito rica. Porque na minha imaginação, eu sou muito rica. E segundo a minha psicanalista, tudo o que eu imagino é verdade. E só porque ela disse isso agora tô insuportável. Nunca ninguém me deu razão ou compactuou de minha insanidade de uma maneira tão intelectualizada e séria. E ele acha fofo eu ser pobre mas me trata como rica. É o sonho de toda vagininha andante. Ser acolhida como morta de fome e tratada como princesa de Mônaco. Eu tô a fim do garoto baixinho da livraria com o dedão machucado, do House, do vizinho gay aqui de cima que elogiou minhas pimentinhas e do Thom Yorke que piscou o olho caído pra mim. Será que tô à perigo? Não, não, eu acabei de me salvar. 

Silêncio

Não vou falar nada. Já que sou tão imprópria, inadequada, boba. Já que nunca basto e se tento me excedo. Já que não sei o que deveria ou exagero em querer saber o que não devo. Nunca entendo exatamente, nunca chego lá, nunca sou verdadeiramente aceita pela exigência propositalmente inalcançável. Meu riso incomoda. Meu choro mais ainda. Minha ajuda é pouca. Meu carinho é pena. Meu dengo é cobrança. Minha saudade é prisão. Minha preocupação chatice. Minha insegurança problema meu. Meu amor é demais. Minha agressividade insuportável. Meus elogios causam solidão. Minhas constatações boas matam o amor. As ruins matam o resto todo. Minhas críticas causam coisas terríveis. Minhas palavras cuidadas incomodam. Minhas palavras jogadas, mais ainda. Minhas opiniões sempre se alongam e cansam. Minhas histórias acabam sempre no egocentrismo ou preconceito. Meu sem fim dá logo vontade de encurtar. Minha construção, desconstrói. Meus convites quase nunca agradam. Meus pedidos sempre desagradam. Meus soquinhos de frases são jovens demais. Meu bombardeio de coisas sempre acaba em guerra. Minha paz que viria depois nunca chega, pois eu nunca chego.(...)
Falar do que sinto é, na hora, desintegrar com seu olhar. Então fico me perguntando sobre o que deveria dizer, se só sei o que sinto. Devo sentir por personagens de livros, filmes, jornais e ruas? É assim que se diz sem ser o que não importa de verdade? E se for o contrário? Mas pra dizer do contrário, fica sempre no ar, é melhor não dizer. Se digo algo sobre minha vida, só sei falar de mim. Se digo algo sobre a vida dele, coitada de mim, achando que sei alguma coisa da vida. Se falo sobre a vida dos outros, que papo furado é esse? Se falo sobre coisas me sinto mais uma delas. Se provoco, eu que provoque sozinha porque ele não é trouxa de cair. Sobre livros, nunca são os que interessam.(...)
Meus sonhos evito falar, um medo de ser menina. Quieta. É assim que será. Se digo certo, isso logo acaba. Se digo certeiro, acabou. Se digo errado, nunca acaba. Se eu for mulher, mulher é um saco. Se eu for homem, homem só existe ele. Se eu for criança, fale com sua analista. Nenhum pio. Combinei comigo. Falar da gente pode? Pode, desde que, depois, eu tenha estrutura para ver toda uma massa desistente desabando sobre meu sofá pequeno. Nadinha. Não vou falar nada. Sobre dor não toca. Sobre prazer toca pouco. Nada. Porque toda vez que eu pergunto, quase ofende. E se respondo, ofende mais. E se exclamo, minha vontade de viver soterra. E se são três pontinhos, não posso. Se começo preciso terminar. Mas quando termino, ele já não está mais. Se repito, quase explode. Se digo uma, sou boa de ser guardada em algum lugar que nunca vejo. Se não explico, pareço louca. Se explico, sou louca. Quieta. Isso! Você consegue! Se for o que eu penso, eu penso errado. Se for o que eu não penso, errei por não pensar. Se não for nada disso, eu que pensasse antes. Se estou animada, cuidado com a rasteira. Se estou desanimada, não tem mão pra levantar. Nada. Não vou sussurrar. Nem gemer. Nenhum som. Respiração muda. O silêncio absoluto. Olhando pra ele. Lembrando de quando ele me disse que é no silêncio que se sabe a verdade. E a verdade chega como um teto gigante que desaba numa cabecinha de vento. 

Sobre a espera(nça)

- A esperança é a penúltima que morre, Luísa.
-Ué, não é a última Camille? Acho que você se enganou...
-Não. É a penúltima. A gente morre antes. E ela persiste e insiste.
-[...]

sábado, 6 de novembro de 2010

Depois que você desligou o telefone, desligou a mente, desligou o coração notei, de longe, que todas as oportunidades haviam ido embora, em meio segundo, antes de desligares, então a culpa não era do fim e sim dos segundos antes dele.
Mas diferente de todas as outras vezes que bati o pé e perdi o tempo, aceitei. Aceitei com a cara mais lavada e abandonada que tenho, aceitei por não ter motivos para não o fazer. Afinal a culpa não era minha. Afinal a culpa não era sua. Afinal nem existia culpa. Foi só mais uma dessas situações que a vida nos ocupa sendo ela, que não temos outra saída a não ser dar prioridade para o que nos é imposto.
A gente vai aceitando,vai engolindo, sentindo falta, depois saudade, depois conformidade... E depois a "fichalidade"- a ficha cai, demora, mas ela sempre cai.
Percebi que não era a vida, nem o tempo, nem os segundos antes do fim, a verdade era, e continua sendo, que você sempre foi legal demais para dizer que alguém não lhe interessava ao ponto de quereres sair da comodidade que é poder ficar com qualquer mulher, em qualquer lugar, sem ter que dar satisfações ou sentir culpa por isso. Ser legal demais também tem suas desvantagens. Porque um hora você perde a majestade da coisa, o controle da imagem bacana que quer passar, e destroça a esperança alheia de encontrar alguém legal de novo.
Não quero mais pessoas legais demais, compreensivas demais, ansiosas demais, que falam bonito demais, que tentam te convencer demais, porque elas gostam de menos. E se for pra gostar de menos, deixa para lá, porque eu já faço isso comigo muito bem.
Quer dizer, se eu me amasse, como deveria ser, não me contentaria com o antes-de-começar, porque o "antes" não passa disso mesmo, o "antes" é só um cartão postal do que vai ser e cartões postais nunca mostram as enchentes de lágrimas, o lixo da culpa, a pessoa sempre certa que habita cada um de nós, cartões postais são lindos e te fazem querer ir para aquele lugar com a promessa de ser feliz. Mas se eu me amasse, só um pouquinho, não me entregaria para qualquer promessa, porque antes de qualquer promessa eu tenho dívidas comigo mesma e qualquer tempo antes de qualquer coisa é lucro. E se eu me amasse, como deveria ser, perceberia que acima de qualquer pessoa que possa me fazer feliz, eu tenho esse poder e as pessoas só podem me fazer feliz, quando eu deixar isso acontecer.
A gente vai aceitando, vai engolindo, sentindo falta, depois saudade, depois conformidade... Na esperança de que a fichalidade chegue e a gente acorde.

Matrioska

Pode parecer loucura, mas não fui eu quem escolheu você me abandonar naquele café metido à besta, nunca tomei um café que custasse tão caro só pra chorar depois em meio àquela gente cheia de pose. Não podia ser num cenário mais mal-composto. Como autora, eu pensei que pudesse ser a mulher mais incrível do livro, a mais interessante.Mas parece que teu personagem foi me dominando, querendo me magoar em público.E, quando eu achava que tinha todo o controle da situação, você me surpreendeu no final do capítulo cinco, querendo enfiar tua vida numa mochila e ganhar o mundo fora das minhas páginas. Você querendo todas as mulheres que poderiam ter sido minhas amigas. Desculpa eu ter sentido tanta raiva, mas as pessoas vivem essas coisas, até as mais espiritualizadas.Eu tive muita raiva de ser a narradora de uma história que eu não controlava mais. Você podia ter me poupado da sua autonomia, mas saiu, no meio do parágrafo, atravessando as ruas, saltando minhas vírgulas, tropeçando minhas aspas, desrespeitando meus parênteses.

O que o amor tirou de mim

O que me interessa no amor, não é apenas o que ele me dá, mas principalmente, o que ele tira de mim: a carência, a ilusão de autossuficiência, a solidão maciça, a boemia exacerbada para suprir vazios. Ele me tira essa disponibilidade eterna para qualquer um, para qualquer coisa, a qualquer hora. Ele apazigua o meu peito com uma lista breve de prós e contras. Mas me dá escolhas. Eu me percebo transformada pelo que o amor tirou de mim por precisar de espaço amplo e bem cuidado para se instalar. O amor tira de mim a armadura, pois não consigo controlar a vulnerabilidade que vem com ele; tira também a intransigência. O amor me ensina a negociar os prazos, a superar etapas, a confiar nos fatos. O amor tira de mim a vontade de desistir com facilidade, de ir embora antes de sentir vontade, de abandonar sem saber por quê. E é por isso que o amor me assombra tanto quanto delicia. Porque não posso virar as costas pra uma mania quando ela vem de uma pessoa inteira. Porque eu não posso fingir que quero estar sozinha quando o meu ser transborda companhia. O amor me tira coisas que eu não gosto, coisas que eu talvez gostasse, mas me dá em dobro o que nunca tive: um namoramento por ele mesmo. O amor me tira aquilo que não serve mais e que me compunha antes. O amor tirou de mim tudo que era falta.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Passou? 
Minúsculas eternidades
deglutidas por mínimos relógios
ressoam na mente cavernosa.
(...)
Nada, que eu sinta, passa realmente.
É tudo ilusão de ter passado.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Eu preciso saber

A recaída de amor acontece como num daqueles pesadelos que se está caindo. De repente você acorda sentado na cama: Meu Deus, eu preciso saber! Mas se eu já estava tão bem há semanas. Volte a dormir, volte a dormir. Você já tinha decidido lembra? Nada a ver com você, chato, bobo, não deu certo. Mas eu preciso saber. Não, não precisa. Pra quê? Vai te machucar. Não! Eu preciso saber. Então levanto da cama.
Chega, chega. Preciso me acalmar. Pra que isso? Se ele estiver com alguém agora, e daí? Terminamos não terminamos? Ele e eu não temos nada a ver, certo? Decidimos que era melhor assim, certo? Eu não tava bem com ele e nem ele comigo, certo? Porque era bom e tal. Aliás, meu Deus, como era bom. Mas não era bom pra ficar junto, certo? Então pronto. Chega. Adulta, adulta. Qual o problema se ele estiver agora, justamente agora, lambendo a virilhazinha de alguma desgraçada? Qual o problema? Ok, eu posso morrer. Eu definitivamente posso morrer. Chega, vou acabar com essa palhaçada agora mesmo.
Tomo banho, me visto, pego a bolsa, entro no carro. Considerando que ele não mora em São Paulo, não sei exatamente o que eu pretendo com isso. Mas me faz bem enganar o cérebro e fazer de conta que estou indo atrás da verdade. Na verdade vou só na casa de outro, preciso fazer qualquer coisa que não seja sofrer, mas não consigo. O outro não conhece Black Swan, não ri da história da Zuleide, não me aperta o braço.
Volto pra casa, destruída. Sinto tanto amor dentro de mim que posso explodir e bolhas de corações vermelhas atingiriam o Japão. Quase não consigo respirar. Chega, chega. Ligo pra ele. Ele não atende. Ligo de novo. Ele atende falando baixinho. Você está com alguém? Estou. Desligamos. Pronto, agora eu já sei. Depois de um final de semana inteiro de palpitacões, descargas de adrenalina, músicas, textos, amigos, danças, gritos, sensações, assuntos, choros, dores, vida. Agora eu já sei. 
O que eu nunca vou saber é porque faço tudo isso comigo só porque tenho tanto pavor do tédio. Era só isso o que eu precisava saber.

Dez Mandamentos (Essência)- II

Ninguém aguenta calmaria demais, é sadismo demais querer tanta calmaria, extingui-se a vida com a calmaria e deveras fosse, o desejo fosse, mas desejo não é, não há calmaria, nunca houve, nunca houve nada parecido com calmaria, só a ideia, mas nenhuma ideia é de fato fato, somos ideias por tanto, pois nada somos além.
Dos problemas, todos nós sabemos. Agora, apresente soluções, por mais que não sejam plausíveis, ponha na mesa o que poderia aliviar o início da agonia, por mais absurdo que seja.
Só assim, repito: só assim, terás, de fato, minha admiração e respeito, quiçá um gostar.
Vou por um ideia em questão: toda sabedoria e prestígio seriam em troca do abandono paulatino da vaidade. Tornar-se humilde leva tempo demais e, nos dias de hoje, tempo é dinheiro.
Não seria preciso abraçar qualquer tipo de loucura, se entendêssemos que o bom senso nunca existiu. Seria uma poupança de tempo.
Queria por em questão a mentira, vindo de ti como um ato egoísta e sutil, não gosto de confusões, não gosto de ter que não confiar em alguém por farejar o falso, não sou de esperar o tempo me dizer o que de fato fica e o que vai embora, até porque o tempo passa e leva tudo. Não minta. Poupe-me o tempo.
Não pedirei verdades, mas, também, não cobrarei respostas, sinta-se a vontade para proferir o que quiser, porém não de qualquer modo, saiba suavizar palavras, o impacto, muitas vezes, não permite a boa desenvoltura da compreensão. Não dificulte as coisas.
O velho clichê “controle seus instintos ou eles o controlarão”, pra mim, ainda é o melhor clichê divulgado, a vida realista/naturalista já está manjada, ela só serve para reforçar a preguiça que as pessoas têm sair do primitivo de quem elas são. Confortar alguém assim é o mesmo que passar a mão na cabeça de uma criança mimada.
Hipocrisia é vício, é fofoca, é ação de gente grande. Não tenha medo de parecer ridículo, tema parecer sábio demais, todos os adultos que conheço medem conhecimento e não ouvi nenhum que soubesse de alguma coisa, além do que está escrito nos livros. Cresça na alma, não na mente. Crescer machuca tanto para, no final das contas, virares criança novamente.
Não vou falar de amor, nem de felicidade. O que é deveras sentido não precisa ser divulgado ou descrito.
Troquei 3 suspiros, de amores passados, por 5 crônicas bem escritas e uns trocados de paciência.
E ainda tem gente achando que saí perdendo!

O de sempre

O tempo passa, por entre os dedos, pelas imagens que os olhos escolhem, pelos planos que a minha voz dita, o tempo passa e eu não passo por ele, eu ando ao lado de cada minuto, de cada segundo, como se pudesse, a qualquer momento, mudar a direção dos ponteiros, porque os planos mudam, os dedos fecham, os olhos cerram, a voz cala, mas o tempo continua passando.
A imobilidade não me acalma, a verdade me cega e dói. Então não vejo. Se não vejo, não sinto. E não sentir por horas, por anos, é estar sedada por sonhos, é ter um vício desconhecido e não diagnosticado e nunca compreendido aos olhos de quem parece entender e menos ainda para quem não parece.
Eu faço desastre com os fatos, eu contorço, eu distorço, eu omito, eu minto, são tudo, menos fatos. São tantas histórias, tantas, com tantas pessoas, diferentes, iguais, que fazem algumas partes da minha vida-fato parecerem um mísero deja vú mal acabado.(...)
Eu prefiro ser uma eterna criança a ter que entender o que acredito. Prefiro ainda ser ignorante, por quanto tempo puder ser a ter que aceitar o resto das coisas que não posso distorcer aqui, segurando a mão de alguém, coisas que não podem.
Quanto segurar a mão de alguém... Fiz-o, deveras, pouquíssimas vezes.
Não gosto desta escrita que eu nem sei escrever, mas não cabe outra, por mais bem feita que seja, não cabe nada melhor do que o que não combina comigo para falar das coisas que me habitam. As verdades.
Porque nada dói mais do que as minhas verdades na boca de alguém.
Deixei, claramente limpa, a roupa suja lavada na mente para esvaziar um espaço e ter lugar para estes novos problemas que nunca chegam.
Eu preciso chorar, entende? Descarregar as mágoas que ignoro dia-a-dia, chorar às vezes que me ignoro minuto-a-minuto, aliviar a tensão da tristeza de quem foi embora, aceitar, depois de entender, que a partir de um certo momento o caminho é você consigo mesmo, apenas, e só, e somente, e sólido.
Desmembrar é preciso, desfazer é necessário, desapegar, desplugar, desligar, des-amar.
É sempre o tempo que passa rápido demais, são sempre as verdades que ninguém conta, é sempre a mentira, a mesma de sempre, é sempre o "nunca" martelando na consciência e te apontando o caminho certo, e te levando para o errado. É sempre.
(...)Eu escrevo sempre as mesmas coisas, os mesmos assuntos, de formas diferentes, mas sempre os mesmos, se não me acostumei até agora, quando vou?

Viver é mais que isso, sabe?

É mais que qualquer coisa que machuque, que chateie, que perturbe, que envergonhe. Porque o tempo passa pra passar, pra passar a dor, a chateação, a perturbação, as loucuras momentâneas, tudo passa. É o problema e a solução.
Não tem resposta, não tem um caminho certo, um guia conciso, nada assim, é só estar no mundo e fazer escolhas, e andar, e esquecer algumas coisas, perdoar outras sem precisar entender, porque entender dar uma dor de cabeça sem tamanho, uma dor de cabeça maior ainda porque ninguém entende mesmo.
Não espere ninguém, não espere momentos, oportunidades, não sente e veja. Se for pra sentar, então respire, sinta de olhos fechados, flui melhor, acalma qualquer coração, qualquer coisa, respire.
(...)mas não esqueça que fazes parte desse todo, tens o direito de fazer como achas que é certo, tens o direito de fazer alguma coisa funcionar pra ti, acima de qualquer problema, acima de qualquer medo, acima de qualquer alguém que diga que não vai dar certo porque "o ciclano tentou também e não deu".
O individualismo é a doença e a cura