sábado, 31 de julho de 2010

E agora que eu tenho certeza que você não é aquele, eu me descubro cagando um monte pra tudo isso.
Porque você não é perfeito, mas o homem idealizado não tem o maldito cílio torto que eu amo tanto e que vez ou outra te causa alguma remela. 
O mala do cara dos meus sonhos não tem o desenho da sua boca: com mais tinta do que contorno. 
O homem perfeito é um puta de um chato com seus cds cults e cartazes de filmes europeus pela sala. Você com aquele seu vinil incansável do Bob Marley é muito divertido, porque a gente briga até não agüentar mais por causa dele e depois faz as pazes transando do nosso jeito. 
Porque o homem perfeito é cheio de estripulias sexuais, mas eu detesto estripulias e adoro nosso jeito intenso de se amar cheio de inconformismos com a intensidade. 
Eu sonhei sim com esse cara, que me levaria tomar sopas quentinhas em lugares com jazz e olharia para mim a noite toda achando que maior diversão no mundo não poderia haver. 
Mas você com essa sua mania de encher de amigos as pizzarias e soltar um ou outro "irado" me faz te odiar tanto e querer tanto a sua atenção. E me faz querer tanto você daqui a pouco, porque você não enjoa. Você me cansa demais mas não enjoa. 
E quando você me cansa eu enfio a minha cabeça no fortinho do seu peito, eu que sempre odiei os malhados, e peço a Deus para que eu nunca desista de te odiar tanto assim, porque não pode existir ódio mais cheio de borboletas, notas musicais e passarinhos azuis. 
Eu quero sim te matar, porque você tem uma mania surda de responder todas as minhas perguntas com um "ãhhh?" enjoado, e eu quero te socar porque você já descobriu tudo o que me irrita e gosta de me ver assim. Mas quando qualquer outra coisa no mundo me irrita, eu lembro que eu tenho você pra me fazer sentir essa raiva nossa de sitcom inteligente. 
Não somos um casal melado, mas duvido que tenha alguém que duvide do nosso amor. Quer dizer, a gente duvida, mas a gente é louco. 
E o homem perfeito teria a maior paciência do mundo em me curar dessa loucura, e você tem a maior paciência do mundo em aumentar a minha loucura. 
Mas eu preciso da minha loucura para escrever coisas geniais e ganhar dinheiro com isso. E sustentar você que, apesar de ganhar bem, é um vagabundo que dorme demais e quer largar tudo para morar na praia. 
O homem perfeito não é um boa-vida não, mas certamente eu o trairia com você. 
E sua cara de sonso despretensioso para a vida, enquanto eu coleciono rugas, berros e inchaços. A sua cara de que "não é comigo" vai muito bem com a minha máscara da agressividade que acredita que tudo é comigo. 
Nossa dança num baile de máscaras é eterna, porque quando eu peso a mão, você me faz voar. E quando você perde o chão, eu te dou um soco na cabeça pra ver se achato a sua alegria pra caber na minha. 
E você cabe de sobra na minha intensidada, e acaba que a minha neurose fria é o quentinho da sua cama. 
E o homem perfeito tem um beijo profundo e ritmado, que de tão melado e encaixável me deixa saciada de um jeito que encerra o meu desejo. E você tem um jeito caótico de me beijar meio burro, porque se eu vou para um lado, você vai para o mesmo. E é nesta única hora em que você não deveria concordar comigo, que você concorda. 
E eu nunca me dou por satisfeita, e acabo achando que a gente ainda nem deu o nosso primeiro beijo, o que me causa uma ansiedade de paixão inicial que não deixa o peito relaxar. 
E o homem das minhas ilusões me deixaria relaxar numa enorme cama amorosa, e acordaria inúmeras vezes para me ver dormir abraçada a toda a certeza que ele me daria com apenas um segundo de olhar. 
É cansativo viver sem vírgulas porque eu respiro a sua existência 24 horas por dia, e só coloco vírgulas teatrais para você não enjoar de mim. 
Te amar não é fácil, é quase o anti-amor. É muito quase como se você nem existisse, porque só o homem perfeito mereceria tanto sentimento. E eu te anulo o tempo todo dizendo para mim, repetindo para mim, o quanto você falha, o quanto você fraqueja, o quanto você se engana. 
E fazendo isso, eu só consigo te amar mais ainda. Porque você enterrou meu sonho aprisionado pela perfeição e me libertou para vivê-lo. 
E a gente vai por aí, se completando assim meio torto mesmo. E Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que se não fossem tão tortas, não teriam se cruzado. 

Últimos segundos

Não deixe quebrar, não deixe romper, não deixe virar grafite envelhecido e esquecido como qualquer contrato sem alma. Corra e cole os pedaços, corra e segure meus pés no chão porque eu estou quase voando, ou me faça voar novamente com você. Por favor, não espere o sanduíche ou a festa do ano, não espere a minha próxima assoada de nariz e a minha cara assustada perdida na sua ausência. 
Venha logo, traga de volta a minha certeza, não deixe, por favor, não deixe. Traga um agasalho para esquentar a minha falta de amor e ganhe em troca um ingresso para a minha fidelidade. 
Não espere o horário do trânsito livre, não espere ouvir o que você não quer, não espere a vida dar merda para colocar a culpa na vida. 
Eu ainda estou aqui por você, limpa, ilesa, sua. Mas cada milímetro do meu corpo me implora por vida, por magia, por encantamento. Por favor, me roube, não deixe, não esqueça do nosso pacto em não ser mais um daqueles casais que não conversam no restaurante e reparam tristes nos outros. 
Outro dia ouvi a música do Closer e lembrei o tanto que eu te amava, o tanto que ainda te amo, mas havia esquecido. Eu lembrei que enxergar sem pretensões você dormindo, com o seu ombro caído pra frente fazendo bochechas de criança na sua cara feliz, é a visão do paraíso pra mim. 
Eu preciso de força, eu preciso de ajuda, eu preciso que você me lembre de que eu não preciso de mais nada, que mais nada é tão perfeito e que podemos ser um casal imbatível. 
Caso tudo isso seja um trabalho inconsciente para me perder, parabéns, você está conseguindo. Mas se ainda existir dentro de você alguma esperança, eu preciso demais que você me abrace e me faça sentir aquilo novamente. É fácil, basta você querer, eu ainda quero tanto. 
Venha agora, não espere o músculo, a piada, o botão, o calo, a saudade, o arrependimento, o vazio. Eu preciso sentir que você ainda sente, eu preciso que o seu coração dê um choque no meu, eu preciso saber que seu peito ainda aperta um pouco quando eu vou embora e se espalha como borboletas nas veias quando eu chego. 
Tudo o que eu quero, quando ele me olha sem pressa e sorri nervoso sem saber porque a gente procura se perder, é que você desligue o DVD e me diga que esse filme é batido e não tem final feliz. Eu quero que você grite dentro da minha cabeça que não precisamos disso e que, por alguma razão, quando a gente se afasta a dor é maior do que todo o mundo que nos espera. 
Eu ainda preciso que você me ache bonita, se surpreenda, me comemore e esqueça um pouco de todo o resto pra se encantar sem medo do tempo. 
Não me tire a razão, não me tire a honra, não me faça estragar tudo só para sentir o vento na cara de novo e a música alta. Berre e assopre em mim enquanto é tempo. 
Me coma na cozinha, quebre a mesa, faça um escândalo, qualquer coisa para tirar o cheiro de velório do meu ventre. Eu ainda quero viver para você. 
Venha agora, ganhe a corrida, passe todo o resto pra trás, é você quem eu continuo eternamente esperando na linha final.
Nosso primeiro beijo foi num bingo, ele disse que as luzes do caça níqueis me deixavam mais bonita e eu disse que ele fazia careta tocando guitarra. Isso tudo merecia ser selado. 
Na foto ele parecia mais homem do que ao vivo. Mas ao vivo ele me pareceu ainda mais homem do que na foto. Sei lá, eu também não entendi nada. 
Do nada eu tive vontade de perguntar se ele acreditava em casamento, mas fiquei com medo de ele me achar uma dessas loucas carentes em busca do homem da vida. Fiquei com medo de ele ver a verdade. Não perguntei, mas olhei para ele e ele me disse: você acredita em casamento? 
Ele ficou com a mão na minha virilha enquanto eu dirigia, e eu achei aquilo mais inteligente do que todas as páginas do seu livro. Não era uma mão enterrada dentro de mim me sufocando de intenções, também não era uma mão morta de intenções estalando dedos vivos. Eram apenas intenções. 
Eu disse que queria apresentá-lo para meu avô e ele topou, mas quando cheguei no cemitério as portas estavam fechadas. Eu disse que queria comer queijo quente e ele topou, mas quando o lanche chegou na metade eu já estava com aquela ânsia de perfeição e fiquei enjoada. 
Ele é daquelas caras sujos que falam gostosa no seu ouvido, não cheiram a perfume e respiram pesado no seu ouvido para você pensar que está transando. 
Ele é bem o tipo que eu gosto. 
Meu filho vai se chamar João, ou Theo, o dele Pedro. Eu nunca fiquei bêbada, ele nunca não ficou bêbado. Ele me pediu para entrar na casa emprestada dele e eu não quis que ele se emprestasse da minha casa. 
Eu disse que depois me sentia sozinha. Eu disse que sempre me sentia sozinha. Ele disse que então tanto fazia. 
Um negro vestido de negro atravessou a rua escura sem olhar e a gente ficou feliz porque ninguém sabia daquele instante além de nós. Depois eu lembrei que todo mundo passa mas ninguém fica e tive vontade de chorar o choro mais longo e pesado do mundo. 
Eu tive vontade de dormir no peito dele, em cima da camisa ridícula dele. Mas eu fui embora antes que isso pudesse ser mais uma lembrança para o meu jovem mural amarelado. 
Ele me pediu desculpas e eu quis socar o nariz dele. Ele disse que meu nariz era lindo, eu sempre achei isso mas nunca tinha ouvido. 
Ele me perguntou se eu sofria, fizemos cara de dor e mudamos de assunto. Concordamos que o vício pela paixão era estúpido e que conviver solitariamente com nosso umbigo era desumano. 
O carinho dele partia do meu antebraço para as mãos, como se escorresse do meu coração e não mais o enchesse. Era a hora do adeus e de contar, por consideração à noite, que meu cabelo não era liso. 
A claridade trouxe o cansaço de estar em mais um roteiro de cinema independente e ele me pediu mais uma vez que guardasse nosso segredo. Ele saiu do carro envolto numa atmosfera de cervejas e fumaças já digeridas e outros tantos desejos que não iríamos mais digerir. 
Eu fui embora, tendo certeza mais uma vez de que nunca sou eu que vai embora.


"Se a primeira recaída já é uma re-caída isso significa que enquanto você achava que estava tudo bem você já estava caindo?"
"É impressionante como eu não gosto de ninguém mas, de vez em quando, escapa um momento, um gesto, uma pessoa perdida e linda e única"


"O amor não acaba, ele continua em outros lugares."


"Se você não puder esperar, será bem-vindo em minha ansiedade."


"Vou querer namorar? Não. Vou querer casar? Não. Vou querer pra pai dos filhos? Não. Então deixa pra lá que já tô velha pra essa palhaçada."


"Tesão reprimido deve dar câncer. Era só um cara interessante, agora pode te matar."


"Assumi meu peso, eu assumi meu medos, eu assumi toda a merda. E assim, voei ainda mais alto, como se flutuasse."


"Nem bonito, nem rico, nem sarado. Eu gosto mesmo é de gente estranha."


"No quesito amor, fiquei tão seletiva que nem eu entrei na lista."


"Ir até a sua casa e te beijar e dizer que te amo e que você é importante demais na minha vida para eu te abandonar."


"Eu rezo pedindo a Deus que não espere mais eu ser legal para ser legal comigo, porque eu tô esperando ele ser legal comigo para ser legal."


"E eu pelos cantos, suspirando por mais um amor perdido pelo excesso."

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A gente não se beija nem nada, mas quando vai ver pegou na mão um do outro de tanto que se gosta e se cuida e se sabe. Já tivemos nossos tempos de transar e passar nervoso e aquela coisa toda de quem ama prematuramente. Mas evoluímos para esse amor que nem sei explicar. Ele me conta das meninas, eu conto dos caras. Eu acho engraçado quando ele fala “ah, enjoei, ela era meio sem assunto” e olha pra mim com saudade. Ele também ri quando eu digo “ah, ele não entendeu nada” e olho pra ele sabendo que ele também não entende, mas pelo menos não vai embora. Ou vai mas sempre volta. Não temos ciúmes e nem posse porque somos pra sempre. Ainda que ele case, more na Bósnia, são quase quinze anos. Somos pra sempre. Ele conta do filme que tá fazendo, eu do livro. Os mesmos há mil anos. Contar é sem pressa de acabar. Se ele me corta é como se a frase que eu fosse falar fosse mesmo dele. É um exibicionismo orgânico, como se meu silêncio pudesse continuar me vendendo como uma boa pessoa. São quinze anos. É isso. Ele me viu de cabelo amarelo enrolado. Eu lembro dele gordinho e mais baixo. Ele sempre comprou meus testes de gravidez, mesmo a suspeita nunca sendo nossa. Eu já fui bem bonita numa festa só porque ele queria me fazer de namorada peituda pra provocar a ex mulher. Minha maior tristeza é que todo novo amor que eu arrumo vem sempre com algum velho amor tão longo e bonito. E eu sofro porque com pouco tempo não consigo ser melhor que o muito tempo. E de sofrer assim e enlouquecer assim, nunca dou tempo de ser muito para esses amores porque estrago antes. Mas meu melhor amigo é meu único amor. O único que consegui. Porque ele sempre volta. E meu coração fica calmo. E ele vai comigo na pizzaria e todos meus amigos novos morrem de rir porque ele é naturalmente engraçado e gente boa e sabe todos os assuntos do mundo. E todo mundo adora meu melhor amigo. E eu amo ele. E sempre acabamos suspirando aliviados "alguém é bobo como eu, alguém tem esse humor" e mais uma vez rimos da piada que inventamos, do pai que chega pro filho e fala: sua mãe não é sua mãe, eu transei com outra". E esse é meu presente dessa fase tão terrível de gente indo embora. Quem tem que ficar, fica. 
Sobre o amor 

Quem não compreende o silêncio ainda não está pronto para ser flor

como tudo pode ser bonito e o bonito pode ser tudo de feio, eu deixei de me fazer perguntas complicadas faz um tempo, quando se vive uma borboleta não se deve perder tempo morrendo deveras
O que era espantoso no seu instinto simplificador era que quanto mais se desembaraçava da moda em busca da comodidade, quanto mais passava por cima dos convencionalismos obedecendo à espontaneidade, mais perturbadora se tornava a sua beleza incrível e mais provocador o seu comportamento com os homens.
E o que aconteceria depois? Pois ela sentia que ele ainda a olhava, mas seu olhar havia mudado. Ele queria alguma coisa - exatamente o que ela achava tao dificil de lhe dar : queria que ela dissesse que o amava. Mas isso ela nao podia fazer. Ele tinha muito mais facilidade para falar do que ela. Ele conseguia dizer as coisas - ela nunca. Assim, naturalmente, era ele quem sempre dizia as coisas, e, por algum motivo, de repente se ressentia disso e a reprovava. Uma mulher fria - era como ele a chamava; nunca lhe dizia que o amava. Mas nao era nada disso - nao era isso. É que ela nunca conseguia dizer o que sentia, isso era tudo.

Goodnight, goodnight


The room was silent as we all tried so hard to remember the way it feels to be alive, the day that he first met her. Something's gotta change, things cannot stay the same.
You make me think of someone wonderful, but I can't place her, I wake up every morning wishing one more time to face her. Something's gotta change, it must be rearranged.
I'm sorry, I did not mean to hurt my little girl, it's beyond me, I cannot carry the weight of the heavy world so goodnight, hope that things work out all right.
So much to love, so much to learn, but I won't be there to teach you I know I can be close, but I try my best to reach you.

Infatuation



Now her face is something that I never had to ever deal with before, she left me with the feeling that she'd had enough and I'm the one wanting more. Burn another bridge, break another heart. Try again, it will only fall apart.
Infatuation.
Not seeing the rest of you is getting the best of me, it's such a shame that you shot me down it would have been nice to be around. I'm touching your skin if it's only a fantasy, then why is it killing me? And I guess this must be infatuation (I want it...)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que comecei a compreender o respeito e a reverência que a experiência humana merece. A me dar conta de delícias que passaram despercebidas durante um sono inteiro. E a lembrar do que estou fazendo aqui. Ainda que eu não faça. Ainda que os vícios que o sono deixou costumem me atrapalhar. Ainda que, de vez em quando, finja continuar dormindo. Mas não tenho mais tanta pressa. Comecei a aprender a ser mais gentil com o meu passo. Afinal, não há lugar algum para chegar além de mim. Eu sou a viajante e a viagem.
Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que comecei a querer brincar, com uma percepção mais nítida do que é o brinquedo, mas também com um olhar mais puro para o que é o prazer. A ouvir o chamado da minha alma e a querer desenhar uma vida que passe por ele. A assumir a intenção de acordar a cada manhã sabendo para o quê estou levantando e comprometida com isso, seja lá o que isso for, porque, definitivamente, cansei de perambular pelos dias sem um compromisso genuíno. E comecei a gritar por liberdade de uma forma que me surpreendeu. Antes eu também gritava, mas o medo sufocava o grito para que eu não me desse conta do quanto estava presa.
Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que comecei a desejar menos entender de onde vim e a desejar mais aprender a estar aqui a cada agora. Só sei que descobri que a solidão é estar longe da própria alma. Que ninguém pode nos ferir sem a nossa cumplicidade. Que, sem que a gente perceba, estamos o tempo todo criando o que vivemos. Que o nosso menor gesto toca toda a vida porque nada está separado. Que a fé é uma palavra curta que arrumamos para denominar essa amplidão que é o nosso próprio poder.
Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que não importam todos os rabiscos que já fizemos nem todos os papéis amassados na lixeira, porque todo texto bom de ser lido antes foi rascunho. E, por mais belo que seja, é natural que, ao relê-lo, percebamos uma palavra para ser acrescentada, trocada, excluída. A ausência de uma vírgula. A necessidade de um ponto. Uma interrogação que surge de repente. Viver é refazer o próprio texto muitas, incontáveis, vezes.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Um passo à frente. Um descuido na vigia e toda sua fortuna está em risco. Seu coração antigo, com velhas manias, costumes quaisquer, idiotices do dia-a-dia, tolices que você pensa e não diz pra ninguém. E quando chegar, sem se apresentar e dizer o nome, não há mais tempo de proteger o que é teu. Não haverá um pedido, uma apresentação formal. Aperto de mãos, abraços? Nada disso. Só um adeus. Um completo adeus à tudo aquilo que você foi um dia. Um furto engrandecido, um coração arrependido. Arrependido? Só do atraso. O amor é maior que tudo. O amor é maior que tudo! O amor é o começo da vida. É o fim de tudo. O fim do mundo num bater mais acelerado no peito. Corra sem olhar pra trás. Feche os olhos sem ter a certeza do chão em que pisa, sem medo. O amor vai te levar pra casa, amor. A partir de hoje. A partir de… quando? Eu já não lembro mais.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Demoramos demais para perceber que é preciso descobrir o começo, algum começo. Nos atrasamos e aí lá se foi milhões de cartas, de erros, de um sim quando era não, e de um não que talvez pudesse nos iniciar. As outras pessoas também não sabiam, e mesmo se desconfiassem saber, não poderiam indicar um caminho que só nós mesmos seremos capazes de desvendar.
Ainda temos medo do escuro, e penso que cresce conosco, silencioso e sempre presente. Nosso caminho é feito do que trouxemos desde muito tempo, desde o intervalo, desde um adeus que não sabíamos, de uma solidão que nos abraçou sem que percebessemos.
Trouxemos a solidão desde que guardamos o primeiro bilhete de amor, desde que o primeiro beijo nunca se repetiu, desde que aprendemos a somar um com um e descobrimos que dois era melhor. Não aprendemos a ser sozinhos, nem tão pouco a sermos completos. Sempre nos faltará alguma coisa, sempre teremos alguma coisa ausente e tão doce que doerá no sorriso. Só a vida nos ensinará que para sermos mais, precisaremos nos dividir. Ser metade sempre será mais completo do ser inteiro.

Só muito tempo depois é que compreendemos o amor, só depois que o peito tiver sido aberto muitas vezes, de termos escritos muitas cartas, de termos encontrado muita gente, depois que do coração só restar uma ferida, aí estaremos prontos. Pois o amor virá depois que se anular a felicidade que julgamos. Deixamos o amor chegar quando estivermos em milhões de pedaços, para cuidar, para curar, para nos ajudar a construir.
Ando meio cansado de gente, sobretudo dessa gente chata que se acha grandes merdas, empina a porra do nariz e não assume o que diz, ou o que faz, e que acha que a melhor forma de levar a vida é fingir que está numas de evolução(...)cansado de piadinhas, de gente que se acha o máximo sem ser, o tal engodo artístico – “eu digo que você é bom, você diz que eu sou bom também; mais tarde a gente toma umas brejas, cria umas gírias e consegue umas subvenções”. Cansado de oportunistas, xepeiros, aproveitadores, de gente que usa discurso pronto pra se dizer bem resolvida, de gente que não pára de dar opiniões sobre a sua vida, mesmo sem você pedir (ou saber). Cansado de quem não ama, mas se aproveita do amor alheio para sobreviver...
Cansado e de saco cheio.
Hoje não tem frase bonita.
Ele pensava que andar de mãos dadas era algo piegas, mas acostumara-se às mãos dela, à textura que tinham, ao calor e também ao suor que por vezes escorria por entre os dedos dos dois.
Ela não pensava nisso. Ou pensava, mas de uma forma diferente, o olhar sempre perdido em algum lugar. Gostava de lugares e gostava de pessoas. Gostava, ainda, do jeito que certas pessoas tinham. Em alguns dias, chegava a questionar o fato de estar presa a uma só.
Ele se preocupava e perdia tempo com besteiras, se era bem visto, bem quisto, se incomodava ou chamava a atenção. Preocupava-se ainda se havia engordado no último mês, se o cabelo embranquecera, se roncava ao dormir.(...)
Ela se achava louca, mas cheia de vida e de humor.
Ele não gostava de balcão de bar, de gente sorrindo da sua cara sem entender o motivo, de gente que batia nas suas costas antes de pedir uma cerveja pra beber.
Ela não gostava de quem falava alto.
Ele pensava parar de fumar.
Ela queria ser feliz, mas não sabia como.
Ele também queria ser feliz, mas em alguns dias não se considerava merecedor.
Ela aprendera a cozinhar, a costurar, a desenhar e tinha o mundo em suas mãos.
Ele ganhou um violão, mas nunca aprenderia a tocar.
Ela queria vida.
Ele queria paz.
Numa noite, quase madrugada, ela o olhou e disse:
- Não sei mais o que sinto. Às vezes quero, às vezes não.
Ele, que tinha bruxismo, respondeu:
- Amanhã a gente conversa, meu amor.
E então virou-se pro outro lado e passou a noite em claro, os olhos abertos, cheios de medo, acompanhando as hélices do ventilador.
Ah! que eu não morra sem provar, ao menos
Sequer por um instante, nesta vida
Amor igual ao meu!

domingo, 25 de julho de 2010

Na noite fria do esquecimento.
Você vê, eu não me esqueci, 
Da canção que você cantava... 
É uma canção que parece com a gente, 
Você que me amava, eu que te amava.
Nós vivíamos, os dois, juntos, 
Você que me amava, eu que te amava.
E a vida separa aqueles que se amam, 
Levemente, sem fazer barulho.
E o mar apaga, sobre a areia, 
Os passos dos amantes separados.

Sabia que eu escrevo pra TV? Vou escrever um lance aí de quadrinhos. Quadrinhos!? Boa! Boa! Conhece Ralph Steadman? O cara ilustrou Freud, acredita?! Tá velho mesmo esse bis. E “Maus”? O do holocausto, o do Pulitzer… sabe? Hmmm. Art Spiegelman? Hmmmm….não, não sei não. Guido Crepax é lindo, ó. Você é a minha Valentina. Ah, valeu, ela tem peitões. Eu já tive um dia, antes da anfetamina natural do meu sangue ansioso matar enjaulado os meus estrógenos. Olha! Você também é poeta! Meio poesia de folder ginecológico mas já é alguma coisa. Bem mais atual que macedônios, pensa bem. É, mais atual eu não posso negar. Bonita essa música, que quer dizer isso? Quer dizer “te amo e também não”, é Sergie Gainsbourg, conhece? O cara da música universal da trepada? É. Ufa! Conheço! É, digamos que você não conheça exatamente, mas tudo bem.
(...)Ce tá tirando sarro da minha cara? Não, eu tô tirando sarro da minha cara, to me sentindo uma imbecil. Não sei porra nenhuma de nada. Tô me achando uma bonequinha na sua mão. É, você é a minha Barbie blogueira. Sou? É. Sabe o que é mais legal de tudo? O quê? Se eu gostasse de você, me mataria agora, mas como não gosto, me dá mais um bis velho e aumenta a música. 

sábado, 24 de julho de 2010

Talvez, se eu conseguisse casar comigo poderia viver fora da casca ou, talvez, viver com alguém que segurasse a minha mão do lado de fora, até eu ter coragem o suficiente para botar os pés. Pode parecer ser coisa de pai, mas meu pai nunca fez isso, então pode ser coisa de amor. 

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu continue alerta. Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso do voo no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu não fira ninguém. Livra-me dos poços e dos becos de mim, Senhor. Que meus olhos saibam continuar se alargando sempre.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Acho que é melhor nos separarmos e eu ir tocar minha música em outro lugar com todos os meus preconceitos burgueses de fidelidade.
 “Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Digo o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego.”
“Minha mãe me disse umas coisas sobre os ódios do meu peito. 
Disse que o ódio que se guarda vai matando só quem sente.” 

"Eu sempre esperei viver uma história de cinema, ouvir cantadas de filme francês, ganhar salário de estrela, ter amigos de sitcom, corpo de capa de revista e enterro de celebridade. Ai eu lembrei que os filmes de que eu mais gosto são aqueles despretenciosos que contam a história de uma pessoa idiota como eu." 
Quando percebi, estava olhando para as pessoas como se soubesse alguma coisa delas que nem elas mesmas sabiam. (...) começava a ver nas pessoas o que elas não sabiam de si mesmas, e isso era ainda mais terrível. O que elas não sabiam de si era tão assustador que me sentia como se tivesse violado uma sepultura fechada havia vários séculos. A maldição cairia sobre mim: ninguém me perdoaria jamais se soubesse que eu ousara. Ninguém me perdoaria se soubesse que eu sei o que elas são, o que elas eram.

domingo, 18 de julho de 2010

Afinal, se a hostilidade do mundo despertar a nossa, quem vai ser o primeiro a sorrir?
Sabe, acho que ninguém vai entender. Ou, se entender, não vai aprovar. Existe em nossa época um paradigma que diz: enquanto você me der carinho e cuidar de mim, eu vou amar você. Então, eu troco o meu amor por um punhado de carinho e boas ações. Isso a gente aprende desde a infância: se você for um bom menino, eu vou lhe dar um chocolate. Parece que ninguém é amado simplesmente pelo que é, por existir no mundo do jeito que for, mas pelo que faz em troca desse amor. E quando alguém, por alguma razão muito íntima, pára de dar carinho e corre para bem longe de você? A maioria das pessoas aperta um botão de desliga-amor, acionado pelo medo e sentimentos de abandono, e corre em direção aos braços mais quentinhos. E a história se repete: enquanto você fizer coisas por mim ou for assim eu vou amar você e ficar ao seu lado porque eu tenho de me amar em primeiro lugar. Mas que espécie de amor é esse? Na minha opinião, é um amor que não serve nem a si mesmo e nem ao outro. 
Eu também tenho medo, dragões aterrorizantes que atacam de quando em quando, mas eu não acredito em nada disso. Quando eu saí de uma importante depressão, eu disse a mim mesma que o mundo no qual eu acreditava haveria de existir em algum lugar do planeta! Haveria de existir! Nem que este lugar fosse apenas dentro de mim... Mesmo que ele não existisse mais em canto algum, se eu, pelo menos, pudesse construi-lo em mim, como um templo das coisas mais bonitas que eu acredito, o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de amor e eu nunca mais ficaria doente. E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam. Elas nunca vão embora porque a gente não foi um bom menino. Ou porque a gente ficou com os braços tão fraquinhos que não consegue mais abraçar e estar perto. Mesmo quando o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim, um banquinho cheio de almofadas coloridas e pede aos passarinhos não sujarem ali porque aquele é o banquinho do nosso amor, o nosso grande amigo. Para que ele saiba que, em qualquer tempo, em qualquer lugar, daqui a quantos anos, não sei, ele pode simplesmente voltar, sem mais explicações, para olhar o céu de mãos dadas. 
No mundo de cá, as relações se dão na superfície. Eu fico sobre uma pedra no rio e, enquanto você estiver na outra, saudável, amoroso e alto-astral, nós nos amamos. Se você afundar, eu não mergulho para te dar a mão, eu pulo para outra pedra e começo outra relação superficial. Mas o que pode ser mais arrebatador nesse mundo do que o encontro entre duas pessoas? Para mim, reside aí todo o mistério da vida, a intenção mais genuína de um abraço. Encontrar alguém para encostar a ponta dos dedos no fundo do rio - é o máximo de encontro que pode existir, não mais que isso, nem mesmo no sexo. Encostar a ponta dos dedos no fundo do rio. E isso não é nada fácil, porque existem os dragões do abandono querendo, a todo instante, abocanhar os nossos braços e o nosso juízo. Mas se eu não atravessar isso agora, a minha arte será uma grande mentira, as minhas histórias de amor serão todas mentiras, o meu livrinho será uma grande mentira porque neles o que impera mais que tudo é a lealdade, feito um Sancho Pança atrás do seu louco Dom Quixote, é a certeza de existir um lugar, em algum canto do mundo, onde a gente é acolhido por um grande amigo. É por isso que eu tenho de ir. E porque eu não quero passar a minha existência pulando de pedra em pedra, tomando atalhos de relações humanas. Eu vou mergulhar com o meu amigo, ainda que eu tenha de ficar em silêncio, a cem metros de distância. Eu e o meu boneco de infância, porque no meu mundo a gente não abandona sequer os bonecos que foram nossos amigos um dia. 
Agora em silêncio, tentando ensinar dragões a nadar.

sábado, 17 de julho de 2010

Um texto sincero e cuspido



Meu mal é fome, sabe? Todas essas noites mal dormidas, os pensamentos que não param, as vontades que não passam. Eu tenho uma sede enorme de desejos que nunca serão cumpridos do jeito que deveriam ser, porque somente eu não basta. Não basta também gostar de solidão sozinha, quando se quer alguém do lado para partilhar segredos. 
Por falar em segredos, poderia te falar que nada dá certo porque eu tenho vergonha de muita coisa em mim, de muita coisa que me cerca e consequentemente, se reparares bem, eu tenho vergonha de mim. Cada pedaço de mundo que me redoma sou eu e cada vergonha que chega nesse mundo é minha.
Eu sei que daqui há muitos anos eu vou estar pior de saúde do que estou, eu vou ser pior de alma do que sou, porque há cada ano que passa eu não me encontro em nada e nada é longe de tudo, sabemos disso, não é verdade?
E todos esses textos com perguntas retóricas e repetidas, são todos textos chatos, insuportáveis, que me fazem querer gritar de tanta impaciência que eles me passam. Eu tenho grandes idéias, grandes coisas em mente, mas não sei o que fazer para passar todas elas para cá, eu não sei como me guardar pro tempo, como pode uma coisa dessas? Como pode tanta coisa dessa em uma só pessoa?
Tô cansada de mim e puta da vida de ter que falar isso sempre, achar isso quase toda vez, pensar que estou sendo chata com todas as pessoas que não me deixam, achar que tô invadindo espaços, derrubando coisas transparentes e de não estar satisfeita com nada que seja meu. Porra, não quero mais isso, mas isso me quer demais. Isso não sai. Isso nem tem nome e Isso me deixa fula da vida, porque eu não posso nem gritar, sequer, o nome do que me deixa com raiva, como simbolismo para expulsar ele de mim. Palavrões não bastam mais, são tão poucos e se formos ver não significam a mesma coisa para todo mundo e em muito lado do mundo nem significam alguma coisa. Mas eu sei que em algum lugar tem alguém que sente Isso. Como eu sei que em algum lugar tem muitas pessoas que cercam a pessoa de quem estou sentindo falta agora, sendo que elas nem dão realmente o valor  que ele merecia ter, mas Deus, para variar, sempre dando asas para quem não pode voar. De tanto ele escrever certo por linhas tortas, estou com dor nas costas.
Amigos, calem a boca por um minuto, todo mundo é muita gente- como diria um cara de quem não gosto mais- e meus ouvidos são dois. Se cada um ficar no seu quadrado o redondo está protegido, porque provavelmente mandaria todos tomarem no cú!
Ah, mas tanto faz, porque meu mal é fome. Vou comer cream cracker com patê, eu acho que não engorda.