segunda-feira, 26 de julho de 2010

Ele pensava que andar de mãos dadas era algo piegas, mas acostumara-se às mãos dela, à textura que tinham, ao calor e também ao suor que por vezes escorria por entre os dedos dos dois.
Ela não pensava nisso. Ou pensava, mas de uma forma diferente, o olhar sempre perdido em algum lugar. Gostava de lugares e gostava de pessoas. Gostava, ainda, do jeito que certas pessoas tinham. Em alguns dias, chegava a questionar o fato de estar presa a uma só.
Ele se preocupava e perdia tempo com besteiras, se era bem visto, bem quisto, se incomodava ou chamava a atenção. Preocupava-se ainda se havia engordado no último mês, se o cabelo embranquecera, se roncava ao dormir.(...)
Ela se achava louca, mas cheia de vida e de humor.
Ele não gostava de balcão de bar, de gente sorrindo da sua cara sem entender o motivo, de gente que batia nas suas costas antes de pedir uma cerveja pra beber.
Ela não gostava de quem falava alto.
Ele pensava parar de fumar.
Ela queria ser feliz, mas não sabia como.
Ele também queria ser feliz, mas em alguns dias não se considerava merecedor.
Ela aprendera a cozinhar, a costurar, a desenhar e tinha o mundo em suas mãos.
Ele ganhou um violão, mas nunca aprenderia a tocar.
Ela queria vida.
Ele queria paz.
Numa noite, quase madrugada, ela o olhou e disse:
- Não sei mais o que sinto. Às vezes quero, às vezes não.
Ele, que tinha bruxismo, respondeu:
- Amanhã a gente conversa, meu amor.
E então virou-se pro outro lado e passou a noite em claro, os olhos abertos, cheios de medo, acompanhando as hélices do ventilador.

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