terça-feira, 31 de agosto de 2010

''Misteriosamente a persona se calou. Era isso:suas atitudes sobressaíram suas palavras. Apenas um olhar malicioso. Maliciosíssimo. Um brilho nos olhos, não úmidos, nunca úmidos. Brilhinho seco era o que era. Brilho de cera polida. E, no isolamento do seu mundo, era a hora do assassinato. Matar quem matou por mil vezes, matar sem olhar para trás. Naquele cubículo de mundo, o que se fazia era pensar. Arquitetar um plano de morte aos sentimentos alheios.A dissimulação é uma arte e a conquista provém disso.Mas escuta isso: é tara, não é amor.Não pode ser amor...é tirar um pedaço do bicho, como se tirou um pedaço de mim e nenhum fragmento será capaz de completar o vazio do personagem.Talvez daí venha a sua mudez.É que ninguém deve morrer sorrindo. Cala a boca! Podem saber! A causa deve ser inconsciente. Aparentemente inconsciente.O silêncio dará conta do recado.''

Precisa-se de recados.

in: O ex-estranho

misto de tédio e mistério
meio dia / meio termo
incerto ver neste inverno
medo que a noite tem
que o dia acorde mais cedo
e seja eterno o amanhecer
Eu tinha mil motivos pra dizer muita coisa,
Mas sabia que o silêncio seria muito mais ensurdecedor
que qualquer palavra que eu pronunciasse.
Calar-se pode ser mais significativo do que mil frases ditas.
Só há percepção onde existe sensibilidade.
Separadas elas não sobrevivem!
“Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.”

Eu quando olho nos olhos,
Sei quando uma pessoa esta por dentro, ou esta por fora.
Quem esta por fora, não segura um olhar que demora.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

With all do respect, your kisses make me mad.
But don't worry,
I'll just keep my eyes on you.
Why is this so weird,
I feel I've known you for years.
You can sleep,
I'll just keep my eyes on you.
I'm already glad that I met you.
I like to see life from your eyes.
Doesn't matter what awaits us.
I will deal with that surprise.
Even though I know you have a lot in your mind, the
future, the pass and the planes you might fly.
I just want to tell you, that this love is true.
You're a stranger, but you're mine.

Chá verde

Por isso que não adianta querer julgar, 
e cada um por sí, na sua própria bolha de ar. 
Mas o que eu penso mesmo, é encontrar alguém, 
que me dê carinho e beijos, e me trate como um neném. 
Me trate muito bem. 
Ah, eu só quero amor, seja como for o amor, 
seja bom, seja bom, seja bom, seja amor. 
Me faz mais feliz, me dá asas pra fluir e cantar o amor, lalarálaiarará.

especial.

Mas sinto que eu te devo sempre alguma explicação. Parece inaceitável a minha decisão. Eu sei. 
Da primeira vez, quem sugeriu, eu sei, eu sei, fui eu. Da segunda quem fingiu que não estava alí, também fui eu. Mas em toda a história, é nossa obrigação saber seguir em frente, seja lá qual direção. Eu sei.
Tanta afinidade assim, eu sei que só pode ser bom. Mas se é contrário, é ruim, pesado e eu não acho bom, eu fico esperando o dia que você me aceite como amiga, ainda vou te convencer. Eu sei. 
E te peço, me perdoa, me desculpa que eu não fui sua namorada, pois fiquei atordoada, faltou o ar, faltou o ar. Me despeço dessa história e concluo: a gente segue a direção que o nosso próprio coração mandar, e foi pra lá, e foi pra lá.
Se me obrigassem a dizer porque o amava,
sinto que a minha única resposta seria:
Porque era ele, Porque era eu.
Não me lembro mais qual foi nosso começo.
Sei que não começamos pelo começo.
Já era amor antes de ser.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Vendo urgente dor semi-nova, com pouco uso, leve arranhão na borda superior esquerda causado por um sorriso irresponsavelmente atirado pela janela.
Aceito troca por alegria, mesmo que com defeito,ou melancolia regada a coca-cola. Não aceito
esperança porque, mesmo sendo a última, acaba morrendo. Tratar com o proprietário.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Olha, só acho que essas sensações existem, tudo isso existe, todas essas coisas que a gente sente quando "ama" alguém, quando fica "triste", ou com "raiva", ou qualquer coisa parecida. Todas elas existem e se elas existem não são mentiras. O problema é que cada um dá nome aos bois como acha que deve. Cada um mistura as sensações e dá o nome que acha que deva ser, mas as vezes, muitas vezes na verdade, as pessoas querem tanto sentir algo grandioso, que acabam diminuindo o número de sensações atribuídas a um certo nome e dessa maneira profanam o que realmente aquela palavra significa, o peso de sensações que aquela palavra deveria ter, entende? A mentira está na ansiedade que muitas pessoas sentem.

Até onde minha idade permite, pude perceber que muito dos nomes que eu usava eram na verdade combinações pequenas de sensações, não eram o todo que a palavra realmente representava. Eu nunca senti uma tristeza completa, como ela deveria ser. Eu nunca fiquei com raiva com todas as sensações que isso implica.
Existem palavras que abrigam números pequenos de sensações e por mais que pareçam as mais fortes, são as menores e as mais simples, como a raiva e a tristeza.
Para mim, veja bem a pessoalidade, o amor é o nome que mais abriga sensações em seu sentido completo. Quem ama sente raiva, tristeza, agonia, felicidade, vergonha, saudade... O amor, para mim, é uma coleção de sensações que aumenta de acordo com que você se permite sentir tudo que o mundo tem a oferecer, tudo que podemos sentir pelo próximo e por nós mesmos. O amor é um nome que dura a vida toda para ser completo. Acho que eu amo em parcelas assim que as sensações aumentam em mim, assim que eu me abro pro mundo, que eu me aceito e aceito o outro com todas as sensações que ele pode me causar, desse jeito aberto mesmo, assim eu amo e esse é um processo que dura a vida toda.
Baseada nessa besteira que acabei de falar, penso, então, que talvez seja por isso que encontramos pessoas tristes e "raivosas" mais facilmente, do que pessoas felizes, satisfeitas e amorosas, porque o nível de complexidade de tais sentimentos são baixíssimos, o que os torna alvo de pensamentos mais simples e de pessoas mais frágeis.
Outra coisa que dificulta a real sensação das coisas é um sentimento pequeno, de palavra pequena também, que vive em mutualismo com outro sentimento pequeno: a ilusão. O medo anda de mãos dadas com ela, essa combinação de medo e ilusão, chamada por alguns de "felicidade" ou "tristeza", mistifica os reais conjuntos de sensações atribuídos a uma palavra. Mas como todo sentimento, para eles existirem e coagirem para o lado negativo você tem que se permitir senti-los e assim como todas as sensações é opção sua tê-las ou não. É preciso saber o que para você é medo e ilusão, é preciso distingui-los, porque desse modo eles não se darão as mãos e distantes eles não sobrevivem.
Você pode amar por incompleto, mas não deixa de ser amor, sabe? Porque para ser completo tem que começar de algum lugar e para ser real tem que se depositado confiança, credibilidade, portanto, se você puder unir todas as sensações que você já sentiu na vida em um só momento estará no caminho certo.
Olha, só acho que essas sensações existem, tudo isso existe, todas essas coisas que a gente sente quando "ama" alguém, quando fica "triste", ou com "raiva", ou qualquer coisa parecida. Todas elas existem e se elas existem não são mentiras. O problema é que cada um dá nome aos bois como acha que deve. Cada um mistura as sensações e dá o nome que acha que deva ser, mas as vezes, muitas vezes na verdade, as pessoas querem tanto sentir algo grandioso, que acabam diminuindo o número de sensações atribuídas a um certo nome e dessa maneira profanam o que realmente aquela palavra significa, o peso de sensações que aquela palavra deveria ter, entende? A mentira está na ansiedade que muitas pessoas sentem.

Até onde minha idade permite, pude perceber que muito dos nomes que eu usava eram na verdade combinações pequenas de sensações, não eram o todo que a palavra realmente representava. Eu nunca senti uma tristeza completa, como ela deveria ser. Eu nunca fiquei com raiva com todas as sensações que isso implica.
Existem palavras que abrigam números pequenos de sensações e por mais que pareçam as mais fortes, são as menores e as mais simples, como a raiva e a tristeza.
Para mim, veja bem a pessoalidade, o amor é o nome que mais abriga sensações em seu sentido completo. Quem ama sente raiva, tristeza, agonia, felicidade, vergonha, saudade... O amor, para mim, é uma coleção de sensações que aumenta de acordo com que você se permite sentir tudo que o mundo tem a oferecer, tudo que podemos sentir pelo próximo e por nós mesmos. O amor é um nome que dura a vida toda para ser completo. Acho que eu amo em parcelas assim que as sensações aumentam em mim, assim que eu me abro pro mundo, que eu me aceito e aceito o outro com todas as sensações que ele pode me causar, desse jeito aberto mesmo, assim eu amo e esse é um processo que dura a vida toda.
Baseada nessa besteira que acabei de falar, penso, então, que talvez seja por isso que encontramos pessoas tristes e "raivosas" mais facilmente, do que pessoas felizes, satisfeitas e amorosas, porque o nível de complexidade de tais sentimentos são baixíssimos, o que os torna alvo de pensamentos mais simples e de pessoas mais frágeis.
Outra coisa que dificulta a real sensação das coisas é um sentimento pequeno, de palavra pequena também, que vive em mutualismo com outro sentimento pequeno: a ilusão. O medo anda de mãos dadas com ela, essa combinação de medo e ilusão, chamada por alguns de "felicidade" ou "tristeza", mistifica os reais conjuntos de sensações atribuídos a uma palavra. Mas como todo sentimento, para eles existirem e coagirem para o lado negativo você tem que se permitir senti-los e assim como todas as sensações é opção sua tê-las ou não. É preciso saber o que para você é medo e ilusão, é preciso distingui-los, porque desse modo eles não se darão as mãos e distantes eles não sobrevivem.
Você pode amar por incompleto, mas não deixa de ser amor, sabe? Porque para ser completo tem que começar de algum lugar e para ser real tem que se depositado confiança, credibilidade, portanto, se você puder unir todas as sensações que você já sentiu na vida em um só momento estará no caminho certo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

"E me dou o direito de errar sem me cobrar, e acertar sem me gabar, porque descobri, no caminho incerto da vida,que o mais importante é decidir.
E decidi, de uma vez por todas, ser feliz e esse caminho não tem volta."
"...Pega no telefone e liga-lhe. Fala com ele de coração aberto, diz-lhe que o queres ver, chora se for preciso, pede-lhe que te diga se sim ou se não. Se for preciso, por mais que te custe, pede-lhe para te escrever a palavra NÃO. Pede-lhe uma resposta para o teu coração. Mais vale saberes que acabou tudo do que viveres com as laranjas todas no ar, qual malabarista exausto, sem saberes nem como nem quando elas vão cair. Mais vale chorar a tristeza de um amor perdido do que sonhar com um oásis que se transformou numa miragem.
Pega no telefone e liga-lhe. Liga as vezes que forem precisas até conseguires uma resposta, a paz de uma certeza, mesmo que essa certeza não seja a que desejavas ouvir.(...) ''
Eu venho de uma longa saudade. Eu, a quem elogiam e adoram. Mas ninguém quer nada comigo. Meu fôlego de sete gatos amedronta os que poderiam vir. Com exceção de uns poucos, todos têm medo de mim como se eu mordesse.

domingo, 22 de agosto de 2010

Nós também fazemos diferença para muita gente. Não estamos isolados nos nossos corpos como muitas vezes sentimos ou, por medo, talvez preferíssemos. Nossos gestos afetam outras tantas pessoas, conhecidas ou não. Fazemos parte de uma rede tecida por fios sutis de interdependência. Agora, neste instante, existem vidas sendo tocadas, de formas até inimagináveis, pela sua, pela minha. Toda vida é muita vida: ela e tudo o que abraça com os seus longos braços de energia. Se fazemos diferença, que seja com amor. É ele, sempre ele, que faz a diferença mais linda.

sábado, 21 de agosto de 2010

Esperar dói. Esquecer dói, mas não saber se deve esperar ou esquecer é a pior das dores.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Vai ser assim, né? Por um tempo só vou ter esse céu de uma tempestade anunciada. Esse nó na garganta. Esses labirintos que vou tentar completar com todos os livros do mundo e que me deixarão cada vez mais perdida. Essa ausência de coisa alguma que vou preencher com músicas que falam de amor assim e que me deixarão sempre tão vazia de ti. O desespero da ineficiência.
Tento ver de fora. Sair dessa historia e ver como num espelho. Como será daqui pra frente? Sabe o que o meu outro eu, ver? Você  está quase translúcido na visão de futuro dela... que futuro... sempre a esperar por coisa que não veria nunca. 
"Fazem meses que não te vejo, que não falo com você; não sei se você está bem, se está estudando, se está gostando de outro alguém ou se às vezes ainda sonha comigo. Nada mais sei sobre você, além do que sobrou. Recentemente vi umas fotos suas, o corte de cabelo ainda era o mesmo, o físico, o estilo de roupas. Mas tinha algo diferente, eu sei que tinha, porém, como eu poderia explicar? Era algo no seu olhar castanho escuro, como se faltasse algo por dentro de você. Era o formato dos traços do seu sorriso, como se tivesse perdido um pedaço de você... Então lembrei, talvez o que faltava, era o pedaço de você que eu levei comigo, e não consegui te devolver." 
Te abraço com calma, para que os corpos solucem todos os beijos que não foram dados. Te entrego alguma coisa bem bonita. Que todo o amor que deixei seja teu, ainda que levado por outro alguém.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Namorix

" Na hora de cantar todo mundo enche o peito nas boates, levanta os braços, sorri e dispara: "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também". No entanto, passado o efeito do uísque com energético e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração "tribalista" se dirigem aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição. 
A maioria não quer ser de ninguém, mas que quer que alguém seja seu.
Beijar na boca é bom? Claro que é! Se manter sem compromisso, viver rodeado de amigos em baladas animadíssimas é legal? Evidente que sim. Mas por que reclamam depois? Será que os grupos tribalistas se esqueceram da velha lição ensinada no colégio, onde "toda ação tem uma reação".Agir como tribalista tem conseqüências, boas e ruins, como tudo na vida. 
Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua, namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja é preciso comer o bolo todo e nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como: não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saber se está namorando mesmo depois de sair um mês com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando outra, etc, etc, etc.
Embora já saibam namorar, "os tribalistas" não namoram. 
Ficar,também é coisa do passado. 
A palavra de ordem hoje é "namorix". A pessoa pode ter um, dois e até três namorix ao mesmo tempo. 
Dificilmente está apaixonada por seus namorix, mas gosta da companhia do outro e de manter a ilusão de que não está sozinho. Nessa nova modalidade de relacionamento, ninguém pode se queixar de nada. Caso uma das partes se ausente durante uma semana, a outra deve fingir que nada aconteceu, afinal, não estão namorando.
Aliás, quando foi que se estabeleceu que namoro é sinônimo de cobrança? A nova geração prega liberdade, mas acaba tendo visões unilaterais. Assim como só deseja "a cereja do bolo tribal", enxerga somente o lado negativo das relações mais sólidas. Desconhece a delícia de assistir um filme debaixo das cobertas num 
dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado, roçando os pés sob as cobertas e a troca de cumplicidade, carinho e amor. Namorar é algo que vai muito além 
das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ele, é telefonar só para dizer boa 
noite, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, transar por amor, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter alguém para amar. Já dizia o poeta que "amar se aprende amando" e se seguirmos seu raciocínio, esbarraremos na lição que nos foi passada nas décadas passadas: relação é sinônimo de desilusão. 
O número avassalador de divórcios nos últimos tempos, só veio a confirmar essa tese e aqueles que se divorciaram (pais e mães dos adeptos do tribalismo), vendem na maioria das vezes a idéia de que casar é um péssimo negócio e que uma relação sólida é sinônimo de frustrações futuras. Talvez seja por isso que pronunciar a 
palavra "namoro" traga tanto medo e rejeição. No entanto, vivemos em uma época muito diferente daquela em que nossos pais viveram. 
Hoje podemos optar com maior liberdade e não somos mais obrigados a "comer sal junto até morrer". Não se trata de responsabilizar pais e mães, ou atribuir um significado latente aos acontecimentos vividos e assimilados na infância, pois somos responsáveis por nossas escolhas, assim como o que fazemos com as lições que nos chegam. A questão não é causal, mas quem sabe correlacional. 
Podemos aprender amar se relacionando. Trocando experiências, afetos, conflitos e sensações. Não precisamos amar sob os conceitos que nos foram passados. Somos livres para optarmos.
E ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver um sentimento... É arriscar, pagar para ver e correr atrás da felicidade. É doar e receber, é estar disponível de alma, para que as surpresas da vida possam aparecer. É compartilhar momentos de alegria e buscar tirar proveito até mesmo das coisas ruins.
Ser de todo mundo, não ser de ninguém, é o mesmo que não ter ninguém também... É não ser livre para trocar e crescer... É estar fadado ao fracasso emocional e à tão temida solidão."

sábado, 14 de agosto de 2010

E, se é assim que vou cuidar desse amor,
com esse “não estar” e um desdém elegante,
quem sabe agora eu não aprenda que o gostar é assim, muitas vezes começa sem querer, quase como uma metáfora...
"Te amo", ela diz, mas ele não acredita, mesmo sabendo que ela não mente. Ela faz declarações de amor com a mesma tranqüilidade que acende um cigarro depois do café ou come um prato de filé com fritas. Aos cinqüenta anos um homem já tem opinião formada sobre o que é o amor e ele sabe que uma pessoa capaz de dizer te amo de forma tão natural apenas pensa sentir o que diz. "Você acha que me ama", ele responde. Ela rodopia o corpo leve, inescrupuloso, e sai, batendo a porta do apartamento. Na esquina da rua se vira e acena para ele, que recua um passo da janela, se protegendo atrás das cortinas. Ela espera alguns segundos, ele reaparece e acena de volta com um gesto duro e frio como um espasmo. 
Ela levanta de leve os ombros, dá meia-volta e dobra a esquina. 
Ele se senta na poltrona perto da janela, acende um cigarro e olha a fumaça. 
Ele achava que me conhecia. Dizia que eu pensava que o amava. Acreditava me conhecer mais do que eu mesma. Sabe como é, coisa de homem que acha que já viveu tudo. Na época ele preparava uma tese de mestrado sobre o amor. Algo sobre manifestações amorosas à luz da sociedade pós-moderna. Acho que ele ia ter um bocado de trabalho. Na primeira vez que transamos, ele jurou que me amaria pra sempre se eu continuasse fazendo sexo oral nele daquele jeito. Ali eu percebi que ele ia ter que pesquisar muito pra desenvolver uma tese convincente. Eu não acho que um homem que jura amor eterno a uma mulher só pelo jeito que ela chupa ele entenda realmente do assunto. Talvez ele só entenda mesmo de sexo oral. O que, cá pra nós, não deixa de ser uma vantagem. O cheiro dela. É um cheiro que ele não sabe explicar, um cheiro impossível, que ele só sente quando não sente direito, só percebe quando não presta atenção, misturado com cheiro de rosa, incenso, creme hidratante e chiclete de canela, que ela gruda nas costas da mão quando toma suco de beterraba com laranja. "Pra saúde", ela diz, brindando o copo num outro imaginário, e bebe o conteúdo quase de um gole só, de olhos fechados para não sentir o gosto. Abre um sorriso satisfeito, desfaz a careta refletida no vidro do copo, leva a mão à boca e resgata o chiclete ainda úmido.
Um dia peguei na mesinha de cabeceira da cama dele uma matéria de jornal: "Machos e fêmeas: o poder do cheiro nas relações amorosas". Ali explicava que homens mais velhos se interessam por mulheres mais novas por causa do cheiro delas. É que essas mulheres, como as fêmeas de qualquer espécie, exalam um cheiro mais forte, e isso compensa a perda progressiva do olfato dos homens mais velhos, o que também acontece aos machos de qualquer espécie. Achei aquilo tudo muito primata pro meu gosto, mas entendi porque ele ultimamente andava cheirando as minhas calcinhas.Os dois primeiros anos deles juntos são ótimos. Ele gosta da juventude dela, do seu jeito apressado de encarar as coisas. Olha para ela e se lembra dele.
Sabe quando uma pessoa te olha tão através de você que alcança aquilo que está lá atrás e nem você enxerga mais? Pois é, não foram poucas as vezes em que ele me olhou assim. Uma vez eu virei pra trás e vi que não tinha ninguém. Achei divertido, mas foi aí que comecei a entender sem ainda saber: eu já estava só. "Sinto uma certa pressa", ela diz. "De quê?", ele quer saber, mas ela não sabe responder. Ele gosta de palavras, explicações, e algumas ela não sabe dar. 
Eu gostava da maturidade dele. Daquele jeito pouco apressado de olhar o mundo. Os cabelos grisalhos, os olhos por trás dos óculos, a calma, principalmente a calma. Uma calma típica dos que sabem e não têm medo disso, dos que sabem que nem sempre foi assim. Era aquela calma dele que eu procurava, mas eu tinha pressa, muita pressa de encontrá-la. E foi justamente aquela calma que um dia começou a ocupar espaços desconhecidos em mim e me revelou uma solidão imensa, só minha: a solidão de mim. Tive medo, muito medo, do silêncio. Era como se de repente não houvesse mais nada além das paredes daquele apartamento.Ele a abraça. Eles transam. Ela vai embora, levando a imagem dele refletida na vitrine.
Enchi a casa de espelhos, na esperança de que muitos de nós ocupassem espaços nos quais não conseguíamos mais circular. Eu já não conhecia mais os caminhos, não era capaz de me distinguir daqueles reflexos, não sabia mais que direção tomar. Minha vida virou um labirinto povoado de fantasmas de nós dois. Quando os aços dos espelhos passaram a ser minha única realidade, fui embora.
Hoje é segunda-feira de carnaval. Pierrôs, colombinas, melindrosas, pandeiros e cuícas se misturam no Largo dos Guimarães e eu aqui, relatando um fato a fria distância, como se a história nunca tivesse sido minha. Faz tempo que ela foi embora e ainda sinto uma saudade alucinada de nós. Um fantasma vira aquela mesma esquina ali embaixo há meses e quanto mais me escondo atrás das cortinas, quanto mais cigarros acendo tentando moldar com a fumaça uma outra imagem que não a dela, mais me aflijo neste apartamento incompleto. O apartamento está em pedaços. Os espelhos aumentam um vazio que parece não ter fim, perpetuam este espaço no qual me perco e eu aqui, sentado nesta poltrona, desejando vê-la surgir de dentro deles e dizer que tudo não passou de um inocente pavor.

Outro dia, era uma segunda-feira de carnaval, cuícas, pierrôs, pandeiros, colombinas, melindrosas, se misturavam no Largo dos Guimarães. Senti saudades. Às vezes tenho vontade de voltar e explicar o pavor que senti.
 Zézim, você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora, caso contrário não vai prestar, eu tenho certeza, você poderá enganar a alguns, mas não enganaria a si e, portanto, não preencheria esse oco. Não tem demônio nenhum se interpondo entre você e a máquina. O que tem é uma questão de honestidade básica. Essa perguntinha: você quer mesmo escrever? Isolando as cobranças, você continua querendo? Então vai, remexe fundo, como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, "apaga o cigarro no peito / diz pra ti o que não gostas de ouvir / diz tudo". Isso é escrever. Tira sangue com as unhas. E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega? Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação:um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida.
Eu conheci razoavelmente bem Clarice Lispector. Ela era infelicíssima, Zézim. A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo. Te falo nela porque Clarice, pra mim, é o que mais conheço de GRANDIOSO, literariamente falando. E morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de "meio doida”. Porque se entregou completamente ao seu trabalho de criar. Mergulhou na sua própria trip e foi inventando caminhos, na maior solidão. Como Joyce. Como Kafka, louco e só lá em Praga. Como Van Gogh. Como Artaud. Ou Rimbaud.
É esse tipo de criador que você quer ser? Então entregue-se e pague o preço do pato. Que, freqüentemente, é muito caro. Ou você quer fazer uma coisa bem-feitinha pra ser lançada com salgadinhos e uísque suspeito numa tarde amena na CultUra, com todo mundo conhecido fazendo a maior festa? Eu acho que não. Eu conheci / conheço muita gente assim. E não dou um tostão por eles todos. A você eu amo. Raramente me engano.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

São saudades de um mundo onde a gente pode falar de coisas inocentes sem temer parecer ridículo. Onde podemos ser sensíveis e expressar a nossa sensibilidade sem sermos olhados como vítimas de uma doença grave. Onde existem mais diálogos que chamam o coração pra conversa e criam pontes do que os monólogos internos feitos de achismos que só sabem aumentar distâncias. Saudades de um mundo onde a busca pelo conforto da alma é tão necessária quanto a busca pelo conforto do corpo. Onde podemos caminhar pelas ruas, descontraídos, sem temer ser atacados por outro ser humano. Um mundo no qual, em vez de propagar o medo, as pessoas utilizam a sua energia para propagar o amor. Saudades de um mundo que às vezes eu sinto tão intensamente que já parece de verdade. Já parece existir, de algum jeito. Um mundo no qual habito toda vez que eu o vejo.
- Então você me evita porque não me terá para sempre?
- Sei que não faz sentido... mas quem quer amores temporários?
- De uma maneira ou de outra, todos os relacionamentos terminam. Não existe garantia vitalícia. É como se recusar a ver o sol nascer porque você odeia vê-lo se pôr.
"Ambos eram conscientes de ter tão poucas coisas em comum que nunca sentiam-se mais sozinhos que quando estavam juntos, mas nenhum dos dois havia se atrevido a magoar os encantos do hábito. Precisaram de uma comoção nacional para perceber, ao mesmo tempo, o quanto haviam se odiado, e com quanta ternura, durante tantos anos." 

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Dessa angústia sem fim, que por mais que se transforme em alegria durante a maior parte do tempo, entre conversas e telefonemas, entre o que houve e o que sobrou de tudo o que dissemos, dá a extensão exata daquele adeus, que toda noite se repete, previsto e dolorido. Assim como o outono modifica a paisagem de toda uma natureza planejada, você mexe e balança e destrói toda uma estrutura que há em mim, desarma o que acreditava ser imbatível. Todos os dias, durante todas as madrugadas em que, depois daquela, não tive mais você, tenho pensado que deve haver – precisa haver – um sentido nisso tudo, e quero acreditar que ele existe, mas sempre há um ponto de partida que não sabemos qual é. 
"Hoje não somos os mesmos, mas somos mais juntos. Sabemos mais uns dos outros, e por esse motivo, dizer adeus se torna difícil. Digamos então, que nada se perderá, pelo menos dentro da gente."

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Ama-se a vida sem pensar nela, sem manter suas fotos em albuns expostos pela casa inteira. Ama-se a vida mesmo sem enviar-lhe cartas, ou menssagens de boa noite no fim do dia. A vida a gente ama mesmo sem falar dela para todos os amigos e parentes. Eu te amo sem falar de você para ninguem, sem colocar suas fotos ao meu redor, sem te ligar ou pensar em você. Eu te amo mesmo você dormindo longe todos os dias. E assim como ama-se a vida sem precisar de nada disso, eu amo você sem precisar de nada disso. E é porque você está em mim, assim como a vida. É porque a vida sou eu, e você sou eu também, que eu amo os dois, sem precisar de me preocupar com nada, nem em viver, nem com você.