segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Naquela época. Época em que nenhum homem do mundo me achava chata ou louca ou mala ou enjoativa. E eu ria, ria delas, de todas elas. As encontrava na Fnac com seus anos e pesos e filhos a mais do que eu. E ria. Seu namorado, seu marido, seu amor, ficante fixo, qualquer coisa séria. Sabe ontem? A tarde? De manhã? A noite? Pois é. E você acreditou mesmo que era ensaio, academia, dentista, massagem na Luisa Sato ou jantar com aquele amigo de mil anos que ele não via? 
Era bom. Engordava, fortificada, dormia serena. A outra. Que saudade dela. Foi embora. Morreu sufocada por uma vontade maior que nasceu em mim. A de ser a de verdade. A de ser a escolhida pra viver uma história e não pra gozar ou rir em horários encaixados. A de correr o risco de cair de algum lugar muito alto e longo e precioso. Correr o risco de sentir e não brincar de sentir. De bancar uma história que não acaba quando o despertador do motel toca. De conseguir amar, mesmo com o pavor que isso causa. De conseguir sorrir mesmo com tanta raiva e ódio de amar. Que saudade de ser sempre a divertida. Agora, sou eu, assustada, ingênua, que entro cheia de mim nos restaurantes e morro de medo dele olhar para o lado. Agora sou eu (e só agora entendo todas aquelas mulheres) que vejo ele olhando e descubro que isso é um pó perto de tanta coisa linda. Agora sou eu sabendo dos jantares, das ruas escuras, das mil armadilhas e nomes que eu nunca vou saber e nem poderia cobrar. Enlouquecendo. Agora sou eu na Fnac, mais velha, querendo ter anos e pesos e filhos a mais que as garotas tateando a vida. E com pena dessas garotas, controladoras, que quase sempre, usadas, continuam solitárias enquanto eles voltam para o que realmente tem importância. Suas mulheres de verdade. O amor que luta pra sobreviver porque é só pelo o que vale a pena lutar. 
Desculpa garota do telefone. Desculpa. Eu era mesmo uma puta, piranha, vaca, vagabunda. Mas agora, sou só a mesma imbecil que você. Que todo mundo. Mais cedo ou mais tarde. Que todo mundo. Porque quem disse que eu não preferia continuar fugindo do amor? Mas ele vem, ele chega, invade, grita por comida, te enche o saco, fede fumaça, mas é lindo, é a melhor coisa do mundo. Faz tudo valer. Faz você se quebrar inteira pra colar de novo de um jeito possível de relacionar. Dói tipo nascer, e eu sei disso mesmo não lembrando. 
É fácil não ter medo de altura quando se vive subterraneamente. Agora, eu sei, posso cair, e o vento na cara, gelado, vertigem, enjôo, desespero, que medo, dá até pra morrer mas é assim que, acho eu, se vive com coragem. 

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