sábado, 30 de outubro de 2010

Eu era virgem aos quatorze e assim fiquei até os vinte e um anos de idade. Mas o Márcio, o garoto mais popular e bonito e charmoso e gente boa da escola, estava na minha casa. Abro a porta. Vejo que ele trouxe os livros de química, física e gramática. Tentando parecer descolada mas tremendo muito, pergunto qual matéria ele quer estudar primeiro. Qual? Ele ri, ensaiado: anatomia. E me empurra pro sofá. E vai direto pros meus peitos, sem nem me beijar na boca. Ah, então acho que é assim, né? Que se trata uma puta ou alguém de quem não se gosta. Aquilo tudo me faz mal demais. Se eu fosse uma princesa, teria um namorado pra ir ao shopping. Mas como sou a garota estranha, ele tenta ver meus peitos. E como eu sempre tive curiosidade em saber como era estar com um garoto realmente lindo e desejado, eu deixo. Mas se eu fosse uma princesa, ele estaria agora nervoso pra pegar na minha mão. Triste, triste, vou ficando tão triste. Por que não sou uma princesa?
De repente. Puft. Scatapuft. Trililililim. Não sou mais a garota de treze ou quatorze anos, estranha, com o peito direito pra fora e um garoto inexperiente e afobado em cima deles. Estou ao lado da cena, escrevendo esse texto. Márcio é um ótimo personagem para uma historinha. A garota de calcinha de renda branca que mandou a empregada embora é uma ótima personagem também. Não sinto que ele tenta abrir a minha calça, mas leio "ele tenta abrir a calça dela". Não sinto que ele começa a querer enfiar sua mão dentro da minha calça, mas leio "e ele começa a enfiar a mão dentro da calça dela". E fico feliz quando, no parágrafo seguinte, descubro que a garota levanta e grita "chega, desculpa, mas eu não consigo, vai embora, por favor, eu não sei o que me deu de deixar você vir aqui".
Márcio, frustrado e muito tímido, veste sua roupa, devagar, como que tentando ainda pensar em algo que salvasse sua tarde de sexo selvagem. Muito provavelmente a primeira. Ela fica deitada, com a camiseta e a alma amassadas. Márcio vai embora. Ela sente uma dor profunda e se promete duas coisas: um dia vou ser uma escritora e um dia vou ser uma princesa.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Eu queria ser Rita

E disseram com seus corpos negros todos os versos brancos que a minha alma cinza jamais viveu.

E nem falo que seja lucro eu saber dos teus segredos, das manias e das taras. Vela no cu, puta que pariu. Até aquela de sete dias que eu guardava pra acender pra minha mãe, Iansã, eparrei Oyá.

Tô no lucro, Fulano, porque a cada vez que me arreganhei pro teu tesão foi por amor, seu filho mal parido de uma égua, foi por amor. POR AMOR!

Fulana

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O zelador

Às vezes, trocamos algumas palavras sobre o tempo. Na verdade, fui eu quem puxou assunto. Tenho essa mania de querer fazer amizade com àqueles que, de alguma maneira, me perturbam.

da dificuldade do não


— Quando foi a primeira vez?
— Aos sete.
— O que você fez?
— Menti.
— Você se arrepende?
— Sim.
— E depois?
— Continuei.
— Mentindo?
— Não.

nem todo mundo


Acordava no meio da noite com a sensação de que estava faltando alguma coisa, levantava, andava pelo apartamento, conferia as portas, o gás e sentava no sofá ao lado do telefone. Queria ligar para alguém; queria ter para quem ligar, mas: ninguém. Verificava se ainda havia alguma luz acesa nos prédios vizinhos e, quando havia, imaginava por quê. "Estou morrendo de tempo", ele disse. "Estamos", respondi. A última conversa não me saía da cabeça. Sempre ficava com a sensação de não ter dito tudo e de ter dito tudo errado e de ter escondido o que não deveria. Queria ter dito: "Não estou feliz". Foram meses planejando, idealizando e viabilizando uma vida nova, unicamente para entender que essa vida nova não era a minha vida; que essa felicidade não era a minha felicidade. E que essa paz, esse silêncio, essa pessoa no espelho…! "Um café e a conta, por favor", "Aliás, esqueça o café, me traga um desfibrilador, que o meu coração ainda pode ter jeito". E eu achando que poderia viver sem coração; que amores assim poderiam ser mortos com meia dúzia de palavras enterradas no peito. Burra.
"Alô… Oi, te acordei?".
A gente pode esquecer dos sonhos, mas os sonhos não esquecem da gente.
Era a primeira vez que entrava na casa dele, mas o meu corpo interpretava aquele momento como um retorno — era íntima da rotina e dos detalhes pequenos e, portanto, indivisíveis: as infiltrações, os livros e o barulho do ventilador de teto. Déjà vu. Quantas vezes eu já estive aqui? Percebia fragmentos de mim nas grossas camadas de poeira sobre os móveis e nos cantos do apartamento: o inevitável é leve. E nós, moço, somos inevitáveis, como a chuva e a morte.

terça-feira, 26 de outubro de 2010



Pra que nenhum mal te alcance
Pra que todo o bem persiga os teus passos
Que levite como a paz dos recém-amantes
E seja forte como o aço
Ah, que não passe de ficção todo o escuro
E de carne e osso a tua luz
Pra que o cotidiano te faça suspirar
E em tudo, tudo, transborde amor.
Pela certeza do que aqui desejo:
Sigo contigo.

"Fico tentado a lhe dizer muitas coisas, todas elas inúteis, começando por lhe recomendar um analista. Ela se antecipa.
- Espero que você tenha o bom gosto de não me sugerir uma terapia.
- E eu espero que você tenha o bom gosto de não se suicidar.
Luísa ri. Ela só comete suicídio em pequenas doses cotidianas.
- Em algumas fases mais, outras menos. Comecei a me matar aos 17 anos e não parei até hoje".

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

.E alimentar uma história, assim como estudar, trabalhar e evoluir profissionalmente, requer exercício diário e investimentos que não podem se afogar na tão proclamada “falta de tempo”. Falta de tempo, no fundo, é falta de organização, e quando o tempo é escasso as pessoas resolvem o que elas acham que é mais importante
Agradeço ao Universo porque tenho todas as minhas faculdades perfeitas e toda a capacidade de superação que um ser humano precisa ter para lidar com as perdas ou para não se envaidecer com o sucesso. Agradeço por ter orientação interior sempre que preciso escolher um novo caminho e por ter acolhimento e ajuda necessária para atingir meus objetivos (desde que sejam justos).Agradeço por atrair relacionamentos saudáveis e pessoas amorosas, por estar sempre com essa inquietação de melhoramento interno. E por poder compartilhar toda a luz que recebo da Boa Sorte que me torno merecedora diariamente.Agradeço pela consciência que me foi dada de que não devemos interferir no destino do outro, mas moldar o nosso próprio. E por encontrar na espiritualidade a coragem necessária para não desanimar diante das maiores dificuldades. Agradeço todos os meus dons e ainda os potencias não desenvolvidos: isso me dá a certeza de que sempre poderei ser uma pessoa melhor, mais generosa e positiva. Agradeço porque aprendi com meu Mestre Espiritual que não importa o tempo que dura um amor, mas o amor que investi durante aquele tempo. Que sempre que escolho uma roupa pela manhã, posso escolher também um sentimento.E isso me dá toda a responsabilidade pela minha alegria. Agradeço por ignorar tanta coisa e isso me fazer curiosa e ávida por aprendizado. Agradeço por poder compartilhar o que sei sem arrogância. Agradeço por saber perdoar e por poder ser perdoada.(...)
Agradeço por todas as vitórias recebidas e peço que todo o Universo possa se beneficiar com a minha Boa Sorte. 

domingo, 24 de outubro de 2010

As esposinhas.

Ele comeu meia cidade e não casou com a mais bonita ou a mais gostosa ou a mais inteligente. Ele casou com a melhor esposinha. O outro, doido de tudo, tinha muito medo. Adivinha do quê? De mulher doida. Porque homem pode tudo. Te ligar bêbado, insistir pra comer seu rabo quando nem beijo na boca você liberou, surtar na porta do restaurante porque o carro atrasou um minuto, falar de amor no segundo encontro. Agora tente, tente, ter um segundo sequer de desequilíbrio hormonal. Espere, esposinha. Não ligue. Não queira. Não pergunte.

sábado, 23 de outubro de 2010

“A Armadilha do ódio é que ele nos prende demasiado estreitamente ao adversário”. “Não posso odiá-los, porque nada me liga a eles: não temos nada em comum”.
O flerte pode-se dizer que é um comportamento que deve dar a 
entender que uma aproximação sexual é possivel, sem que essa
eventualidade possa ser entendida como uma certeza.
Em outras palavras, o flerte é uma promessa de coito, mas
uma promessa sem garantia. portanto entre o amor e o ato de
amar ha uma grande diferença, para muitos o flerte é uma
segunda natureza, uma rotina insignificante um campo de 
investigação, vontade de descobrir aquilo do que se é capaz
fazendo-o tão importante, tão grave, o desejo de agradar que
se perde toda a leveza, tornando-o forçado, intencional, 
exessivo. O equilibrio entre a promessa e a ausência de
garantia em que reside o autêntico virtuosismo do flerte
foi rompido e esta muito inclinado a prometer, sem mostrar
de maneira suficientemente clara que as promessas feitas não
nos obriga a nada.
Eu te desaconselho a me procurar: eu sei onde te encontro antes de me perder por aí.Só não quero deixar pegadas enquanto repenso em qual bifurcação desisti de seguir adiante.Não sei se fiz a coisa certa ao me desvencilhar daquela nossa rotina hiperbólica. Porque preciso de muita paixão, enquanto rezo pela calmaria. É que eu preciso de muitas questões, enquanto fujo para obter respostas...

Não queria escrever um texto, mas um sopro.Desses que tiram o fio de cabelo do teu olho, talvez a única coisa que falte pra deixar sua lágrima evidente.Talvez a única lágrima capaz de desatar esse seu nó na garganta, latente. Até que o choro venha espesso e a alma possa se acalmar no cansaço da dor. E com toda essa emoção sendo despejada, você consiga perceber que não precisa racionalizar nada pra se sentir melhor. Isto é clichê. E que você nem precisa se tornar uma pessoa melhor agora, neste exato momento em que tudo é culpa.Você só precisa conseguir acolher o seu ser assustado. Traze-lo pra sua respiração até que ele se tranqüilize.Você não precisa entender essa angústia. Você não precisa disfarçar tua confusão, nem negar o teu “eu inferior” que tem tanta beleza quanto a parte mais sábia de você. Você só precisa limpar da sua voz esse choro contido: pra que possa pedir ajuda ou desculpas com toda a clareza da força do teu coração.
Creio em frases desacompanhadas, em palavras cruas, textos sem autor. Tudo é falta de comprometimento, tudo é vácuo, vazio, relento. Tudo é falta de rumo, um peito apertado, tristeza sem dor...

Talvez seja a dúvida entre manter a solidão ou arriscar a vida de outra maneira. Pode ser. E pode ser que toda essa história tenha se desenvolvido nos dois segundos em que eu fechei os olhos e não precisei abrir pra saber que você estava lá.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O mais triste num sofrimento é se perguntar : "Vale a pena?"
Vale a pena todo esse sofrimento por quem nem mesmo pensa em avisar? Certamente não. Então nem sofrimento se tem mais, e isto é ainda mais triste.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Namoramar
para seguir de mãos dadas
e projetar no futuro o presente.
Namoramar
para se sentir acompanhada
mesmo quando o outro está ausente.
Namoramar
para encontrar no amor sua casa.
Namoramar
para ter em si o aconchego que é estar
tão na-morada.


(Namoramar para desenhar sentido na rotina e descobrir no
verso seu inverso ou sua rima).
“Solidão prolongada me ensinou a ser exigente. Quando me tornei minha melhor companhia, só me apaixonei por pessoas absolutamente incríveis.”
"Descubro com melancolia que o meu egoísmo não era tão grande assim, pois dei ao outro o poder de me magoar."

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O mistério

Estive pensando nesse mistério que faz com que a vida da gente se encante tanto por outra vida. E sinta vontade de escrever poemas. Garimpar estrelas. Deixar florir pelo corpo os sorrisos que nascem no coração. Nesse mistério que nos faz olhar a mesma imagem inúmeras vezes, sem cansaço, seja ela feita de papel ou de memória.(...) Cantarolar pela rua aquela canção que a gente não tinha a mínima ideia de que lembrava.
Estive pensando nesse mistério que faz com que a vida da gente encontre essa vida na multidão planetária de bilhões de outras. E sem saber que ela existia, perceba ao encontrá-la que sentia saudade dela antes de conhecê-la. (...)
Estive pensando nesse mistério lindo que você é para alguém e alguém é para você ou que ainda serão um para o outro. Nessa oportunidade preciosa dos encontros que nos fazem crescer no amor com o tempero bom da ludicidade. Nesse clima de passeio noturno em pracinha de cidade pequena. Nessa paz que convida o coração pra recostar e repousar cansaços. Nesse lume capaz de clarear um quarteirão inteirinho da alma. Nesse abraço com braços que começam dentro da gente. Nessa vontade de deixar o mundo todo pra depois só para saborear cada milímetro do momento embrulhado pra presente.

sábado, 16 de outubro de 2010

Sempre preferi dar medo do que amor. Até o dia em que comecei a ter medo também.

O tempo estava certo.



O fato resumindo é que o amor não era mais aquele estardalhaço. O amor era suave e tinha um jeito de penetrar sem invadir, de libertar no abraço. O amor não era mais aquela insônia, mas sonho bom na entrega ao desconhecido. O amor não era mais a iminência de um conflito, mas uma confiança na vida. E, pela primeira vez, o amor não carregava resquícios de abandono, pois havia descoberto: o amor estava ali porque ambos estavam prontos.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010



"(...) Vou beijando a memória desses beijos."

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

“A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa.”

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

E eis que adentra à festa o rapaz que, não faz nem uma semana, me pedia que eu não fosse ainda, só mais um pouquinho, espera amanhecer, porque, depois, você sabe, dá tanto sono. De mãos dadas com a moça que vive dando entrevista dizendo que eles se comem mesmo, o tempo todo. E isso não me dói em nada. Foi só um moço muito bonito que durou uma semana. Mas ele também reforça meu pé inquieto batendo ritmadamente: será que demora? Não sei. Não, não demora mais. Olho pra porta e ele acabou de chegar. Eu fui na festa por causa dele. Então era isso, eu tava esperando o tal do moço que me convidou pra festa. E então ele fala comigo e encosta um pouco em mim e eu penso em ser muito honesta. Olha, fulano, eu acho tudo isso um saco, sabe? Eu odeio a cordialidade dos bichos. Todo mundo se elogia, fala de trabalho, conhece gente, faz piadinha ruim. Mas tá todo mundo pensando o que vai ter pra comer e também pra comer. Eu vim aqui porque, sei lá, desde que te vi na reunião e eram oito da noite e você estava muito cansado mas, mesmo assim, você estava muito cheiroso e falou coisas muito inteligentes, eu fiquei a fim de te beijar na boca. Então, dá pra pedir pra esse bando de amigo chato, que fica puxando seu saco, desaparecer do mapa? A menina com a perna gorda pode, por favor, nos deixar em paz? Você pode, por favor, parar de mexer no cabelo da minha amiga e parar de dar risadinha no ouvido dela e sumir daqui comigo? Não, ele não pode. Ele não é a resposta. Ah, Tati. Você deveria saber. Eles nunca são a resposta. Nunca foram. Que é que você quer? Por que você olha tanto pro celular? Existe alguém no mundo, nesse momento, que poderia te ligar agora e te deixar feliz? Não. Ninguém é a resposta. Nem o sofá, nem a festa, nem ficar em casa, nem a água com gás, nem olhar com nojo para o grupo de piriguetes vips que não prestam pra nada a não ser frequentar festas para sair em revistas e angariar empresários. Finalmente já tenho o que esperar: o carro. Finalmente já tenho o que fazer: ir embora. Na verdade a única coisa que estou sempre esperando e querendo é ir embora. De todos os lugares, de todas as pessoas. Eu não estou esperando nada a não ser o tempo todo sair de onde eu estou.