quarta-feira, 5 de maio de 2010

"Não será a primeira vez, sem dúvida não será. Ainda haverá muitas outras vezes em que o sono não virá, em que as horas da madrugada parecerão um pouco mais lentas, em que a noite parecerá ainda mais densa e silenciosa e que ficarás aflito e insone das lembranças. Mas como alguém poderá esquecer dos beijos que recebeu, da sua textura, do seu gosto, do seu tramitar? Como alguém poderá esquecer uma mão que em uma tarde qualquer de junho pousou sobre a sua e fez com que o medo e solidão aos poucos fossem embora? Como alguém poderá esquecer aquela manhã de domingo, sim aquela, em que se falhou o compromisso marcado por que decidiram fazer amor? Pensará ainda quantas vezes naquele vestido florido que deixava o vento desenhar o corpo que também era seu? Olhará sem perceber para a sala, buscando saber o que eu estaria fazendo. Ouvirá os barulhos das xícaras na cozinha, mas não sou eu, e nem estou cantando Janis enquanto organizo as roupas no armário. Você duvidará de uma suposta loucura, de um supérfluo desejo de viver com o que já não tem mais.(...)Deixei também um batom na pia do banheiro e dois livros na estante e muita, muita saudade.
A noite esfria mais um pouco. A noite não passa de uma boca faminta querendo nos devorar. Por vezes, o vento bate na janela, atravessa as frestas, soa, canta qualquer canção que não te faça dormir. O vento nem sempre é um bom amigo, o quarto nem sempre é um bom abrigo. Por fim esse momento não passa de um mal estar, de um querer estar em casa já estando, em um querer chegar em algum lugar da onde já se está partindo. Estamos todos entre o antes e o depois, o agora é breve bobagem, só está de passagem entre o lembrar e o esperar. Então lembre e espere, não se desespere, me guarde em um bom lugar."

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