A frase mais sábia que ouvi essa semana foi: " Mas o picolé gelado me acalma". Minha prima de quatro anos, portadora de necessidades especiais, respondeu isso, quando o mendigo disse que picolé fazia mal... Eu me senti uma criança, porque picolés me acalmam também, o geladinho descendo na garganta faz com que o pensamento no que está errado se esvaia dando lugar à dormência na língua e a preocupação inicial boba, a qual eu sempre tenho, de que posso gripar, mas tanto faz... O picolé gelado me acalma.
Se nós fossemos contar quantas coisas que nos fazem mal dão a sensação de bem-estar, perderíamos um bom tempo de nossas vidas. Coisas como: deixar de fazer o dever de casa para rir um pouco de um filme de comédia, aceitar o convite de um ex-namorado- que te deu um pé na bunda- para sair, tomar banho de chuva descalço na rua, ficar deitado na areia sentindo o sol quente no rosto, os fumantes e alcoolatras entram nessa teoria também.
Coisas pequenas, simples, que alguns fazem de vez em quando e outros fazem quase sempre.
Afinal, coisas pequenas, que fazem bem ou não, são as que preenchem nossas vidas, sabe? São as coisas que, enquanto temos, não nos fazem falta. Essas coisas, que quando faltam, dão aquela sensação de perda, aquele típico caso de "eu não sei o que é, mas sei que tá faltando alguma coisa". São parte desse quebra-cabeça, de infinitas peças, que é a nossa vida, onde a cada dia que passa o número de peças aumenta e a nossa percepção diminui, consequencia da vista cansada de tanto procurar uma peça chave, que completa a figura de um caminho no quebra-cabeça. Uma peça de nome comprido, mas de proporção pequena, a tal peça chave de que todos falamos e que, às vezes, pensamos ter achado: a felicidade.
Eu sempre pensei que felicidade não fosse coisa grande, e que também não fosse para gente grande, porque, quando crianças, ficávamos quase sempre felizes com qualquer besteira, com qualquer bobagem que brilhasse, fizesse barulho ou que fosse diferente. Nessa fase, a de criança, o quebra cabeça ainda falta tanto para ser completo. Essa fase onde as peças ainda são grandes e o diferente é abundante. Fase dos porquês, das manhas, do falar de sentimentos sem saber o que são. Será que uma criança sabe o que é amor? Será que uma criança sente o amor pelo outro? Portanto, de onde vem esses adultos insensíveis e amargurados?
A gente cresce, o número de peças aumenta, o medo de não completar o quebra-cabeça surge e são tantas figuras de caminhos, são tantas figuras, que muitos acham melhor deixar de procurar a peça chave e vão completar seu jogo sem ela, afinal é uma pequena peça, pode não fazer falta.
É então que os que tiveram disciplina, para continuar montando o quebra cabeça e continuar procurando a peça chave, descobrem que a que está faltando pode ser substituída por reservas, pode não encaixar muito bem, mas que não fica tão ruim. É quando isso acontece, que os que souberam aproveitar o tempo, percebem que na caixa do quebra cabeça vem escrito: Felicidade. Os descrentes acham isso uma brincadeira sem graça e que o nome do jogo é esse pela falta da peça. Mas os que sentem, os que acreditam e os que tentam compreender as coisas, tem discernimento suficiente para entender que o nome foi atribuído para a coisa errada e que a felicidade não é uma pequena peça que falta no quebra-cabeça e sim todas as figuras de caminhos que foram construídas, as peças como um todo, e quanto mais caminhos montamos, mais felizes somos e, por fim, descobrimos que a lição é que as pequenas coisas, juntas, são o que tanto procuramos.
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