domingo, 23 de maio de 2010

Da vida que te confunde tanto que você quer se afastar de
tudo para entendê-la de fora. Da vida que te humilha tanto
que você quer se ajoelhar numa igreja. Da vida que te
emociona tanto que você não quer pensar. Da vida que te dá um
tapa na cara pra você acordar e não tem ninguém pra cuidar do
machucado e dizer que vai ficar tudo bem. Da vida que te
engana.
Aquele abraço era o lado bom da vida, mas para valorizá-lo eu
precisava viver. E que irônico: pra viver eu precisava perdê-
lo.
Se fosse uma comédia-romântica-americana, a gente se
encontraria daqui a um tempo e eu diria a ele, que mesmo depois
de ter conhecido homens que não gritavam quando eu acendia a
luz do quarto, não faziam uso de um cigarro que me irritava
profundamente e sobretudo minha rinite alérgica, não amavam
os amigos acima de, não espirravam de uma maneira a deixar
um fio de meleca pendurado no nariz, não usavam cueca rosa,
não cantavam tão mal e tampouco cismavam de imitar o Led
Zeppelin, não tinham a mania de aumentar o rádio quando eu
estava falando, não tiravam sarro do bairro em que nasci, não
insistiam em classificar minhas mãos e pés como seres de
outro planeta, não ligavam se eu confundisse italiano com
espanhol e argentino, nomes de capitais, movimentos
artísticos, datas de revoluções e nomes de queijo, era ele
que eu amava, era ele que eu queria.
E ele me diria que, mesmo depois de ter conhecido mulheres que
conheciam a Europa e não entupiam o ralo com cabelos,
mulheres que tinham nascido em bairros nobres e charmosos de
São Paulo, ou melhor, do Rio de Janeiro, mulheres que
arrumavam a cama e não demoravam tanto para sentir prazer,
não entravam de sapato no carpete, não tinham uma blusa
ridícula com uma rajada de dourado, não eram dentuças e
tampouco testudas, não cantavam tão mal, não tinham medo de
cachorros pequenos, não reclamavam do ar-condicionado e nem
tinham medo de perder a mãe ou comer uma comida muito
temperada, era eu que ele amava, era eu que ele queria.
Mas a realidade é que não gostamos desses tipos de filme
fraco com final feliz, gostamos dos europeus "cult" onde na
maioria das vezes as pessoas sofrem e perdem, assim como aconteceu com a gente.

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