quinta-feira, 18 de julho de 2013
segunda-feira, 30 de abril de 2012
Adeus, meu amor, logo nos desconheceremos. Mudaremos os cabelos, amansaremos as feições, apagarei seus gostos e suas músicas. Vamos envelhecer pelas mãos. Não andarei segurando os bolsos de trás de suas calças. Tropeçarei sozinho em meus suspiros, procurando me equilibrar perto das paredes. Esquecerei suas taras, suas vontades, os segredos de família. Riscarei o nosso trajeto do mapa. Farei amizade com seus inimigos. Sua bolsa não se derramará sobre a cadeira. Não poderei me gabar da rapidez em abrir seu sutiã. Vou tirar a barba, falar mais baixo, fazer sinal da cruz ao passar por igrejas e cemitérios. Passarei em branco pelos aniversários de meus pais, já que sempre me avisava. O mar cobrirá o desenho das quadras no inverno. As pombas sentirão mais fome nas praças. Perderei a seqüência de sua manhã - você colocava os brincos por último. Meus dias serão mais curtos sem seus ouvidos. Não acharei minha esperança nas gavetas das meias. Seus dentes estarão mais colados, mais trincados, menos soltos pela língua. Ficarei com raiva de seu conformismo. Perderei o tempo de sua risada. A dor será uma amizade fiel e estranha. Não perceberei seus quilos a mais, seus quilos a menos, sua vontade de nadar na cama ao se espreguiçar. Vou cumprimentá-la com as sobrancelhas e não terei apetite para dizer coisa alguma. Não olharei para trás, para não prometer a volta. Não olharei para os lados, para não ameaçá-la com a dúvida. Adeus, meu amor, a vida não nos pretende eternos. Haverá a sensação de residir numa cidade extinta, de cuidar dos escombros para levantar a nova casa. Adeus, meu amor. Não faremos mais briga em supermercado, nem festa ao comprar um livro. Não puxaremos assunto com os garçons. Não receberemos elogios de estranhos sobre nossas afinidades. Não tocaremos os pés de madrugada. Não tocaremos os braços nos filmes. Não trocaremos de lado ao acordar. Não dividiremos o jornal em cadernos. Não olharemos as vitrines em busca de presentes. O celular permanecerá desligado. Nunca descobriremos ao certo o que nos impediu, quem desistiu primeiro, quem não teve paciência de compreender. Só os ossos têm paciência, meu amor, não a carne, com ânsias de se completar. Não encontrará vestígios de minha passagem no futuro. Abandonará de repente meu telefone. Na primeira recaída, procurará o número na agenda. Não estava em sua agenda. Não se anota amores na agenda. Na segunda recaída, perguntará o que faço aos conhecidos. As demais recaídas serão como soluços depois de tomar muita água. Adeus, meu amor. Terá filhos com outros homens. Terá insônia com outros homens. Desviará de assunto ao escutar meu nome. Adeus, meu amor.
terça-feira, 31 de maio de 2011
Sawabona Shikoba
Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.
O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar. A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal. A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente. Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem. O homem é um animal que vai mudando o mundo e depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral. A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa a aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém. Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não a partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável.Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado.Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo...Caso tenha ficado curioso(a) em saber o significado de SAWABONA, é um cumprimento usado no sul da África quer dizer "EU TE RESPEITO, EU TE VALORIZO, VOCÊ É IMPORTANTE PRA MIM".Em resposta as pessoas dizem SHIKOBA que é "ENTÃO EU EXISTO PRA VOCÊ"
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Leia até onde puder
Quando aceitamos a ideia de nos dar a alguém, e a partir desse acordo pertencemos a essa pessoa, porque assim foi acertado, porque queres me beijar a mim, se eu não sou a parte que te pertence? Qual é a pretensão que te firma o desejo do que não é teu? Qual a necessidade de mentira na verdade e qual é a necessidade de verdade na mentira? Porque me queres beijar a mim, se a minha boca não é a tua boca e a tua boca não é minha?
Porque há o erro na incerteza do concreto? Porque me beijar é mentir pra mentira anterior e o que faz de uma mentira melhor ou pior que outra? Mentira é mentira até que se prove o contrário e verdade é verdade até que se prove o contrário. Porque há culpa? E porque há satisfação na culpa? E porque há culpa na satisfação?
Se eu, tu e ele somos amor, quem é o maior amor? Se a verdade que é mentira é mentira por ter sido um dia verdade, como há espelhos e inversões, quem é o maior amor: A verdade ou a mentira? Quem é a maior verdade: A mentira ou o amor? Quem é a maior mentira: O amor ou a verdade?
Não há verdade, não há mentira, não há amor. Não há resposta, não há tamanho. Todos nós que aqui chegamos desconstruímos o amor por opção própria, agora o amor acabou, a verdade e a mentira. Acabou a certeza e a convicção, porque verdade é mentira e é amor, porque mentira é amor e é verdade e porque amor é verdade e é mentira. Nós matamos o amor, o amor não existe, e só pela ínfima inexistência, ele existe.
Porque amor é contrário até que se prove amor.
Ou é amor até que se prove o contrário.
Porque há o erro na incerteza do concreto? Porque me beijar é mentir pra mentira anterior e o que faz de uma mentira melhor ou pior que outra? Mentira é mentira até que se prove o contrário e verdade é verdade até que se prove o contrário. Porque há culpa? E porque há satisfação na culpa? E porque há culpa na satisfação?
Se eu, tu e ele somos amor, quem é o maior amor? Se a verdade que é mentira é mentira por ter sido um dia verdade, como há espelhos e inversões, quem é o maior amor: A verdade ou a mentira? Quem é a maior verdade: A mentira ou o amor? Quem é a maior mentira: O amor ou a verdade?
Não há verdade, não há mentira, não há amor. Não há resposta, não há tamanho. Todos nós que aqui chegamos desconstruímos o amor por opção própria, agora o amor acabou, a verdade e a mentira. Acabou a certeza e a convicção, porque verdade é mentira e é amor, porque mentira é amor e é verdade e porque amor é verdade e é mentira. Nós matamos o amor, o amor não existe, e só pela ínfima inexistência, ele existe.
Porque amor é contrário até que se prove amor.
Ou é amor até que se prove o contrário.
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