sábado, 21 de agosto de 2010

Esperar dói. Esquecer dói, mas não saber se deve esperar ou esquecer é a pior das dores.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Vai ser assim, né? Por um tempo só vou ter esse céu de uma tempestade anunciada. Esse nó na garganta. Esses labirintos que vou tentar completar com todos os livros do mundo e que me deixarão cada vez mais perdida. Essa ausência de coisa alguma que vou preencher com músicas que falam de amor assim e que me deixarão sempre tão vazia de ti. O desespero da ineficiência.
Tento ver de fora. Sair dessa historia e ver como num espelho. Como será daqui pra frente? Sabe o que o meu outro eu, ver? Você  está quase translúcido na visão de futuro dela... que futuro... sempre a esperar por coisa que não veria nunca. 
"Fazem meses que não te vejo, que não falo com você; não sei se você está bem, se está estudando, se está gostando de outro alguém ou se às vezes ainda sonha comigo. Nada mais sei sobre você, além do que sobrou. Recentemente vi umas fotos suas, o corte de cabelo ainda era o mesmo, o físico, o estilo de roupas. Mas tinha algo diferente, eu sei que tinha, porém, como eu poderia explicar? Era algo no seu olhar castanho escuro, como se faltasse algo por dentro de você. Era o formato dos traços do seu sorriso, como se tivesse perdido um pedaço de você... Então lembrei, talvez o que faltava, era o pedaço de você que eu levei comigo, e não consegui te devolver." 
Te abraço com calma, para que os corpos solucem todos os beijos que não foram dados. Te entrego alguma coisa bem bonita. Que todo o amor que deixei seja teu, ainda que levado por outro alguém.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Namorix

" Na hora de cantar todo mundo enche o peito nas boates, levanta os braços, sorri e dispara: "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também". No entanto, passado o efeito do uísque com energético e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração "tribalista" se dirigem aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição. 
A maioria não quer ser de ninguém, mas que quer que alguém seja seu.
Beijar na boca é bom? Claro que é! Se manter sem compromisso, viver rodeado de amigos em baladas animadíssimas é legal? Evidente que sim. Mas por que reclamam depois? Será que os grupos tribalistas se esqueceram da velha lição ensinada no colégio, onde "toda ação tem uma reação".Agir como tribalista tem conseqüências, boas e ruins, como tudo na vida. 
Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua, namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja é preciso comer o bolo todo e nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como: não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saber se está namorando mesmo depois de sair um mês com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando outra, etc, etc, etc.
Embora já saibam namorar, "os tribalistas" não namoram. 
Ficar,também é coisa do passado. 
A palavra de ordem hoje é "namorix". A pessoa pode ter um, dois e até três namorix ao mesmo tempo. 
Dificilmente está apaixonada por seus namorix, mas gosta da companhia do outro e de manter a ilusão de que não está sozinho. Nessa nova modalidade de relacionamento, ninguém pode se queixar de nada. Caso uma das partes se ausente durante uma semana, a outra deve fingir que nada aconteceu, afinal, não estão namorando.
Aliás, quando foi que se estabeleceu que namoro é sinônimo de cobrança? A nova geração prega liberdade, mas acaba tendo visões unilaterais. Assim como só deseja "a cereja do bolo tribal", enxerga somente o lado negativo das relações mais sólidas. Desconhece a delícia de assistir um filme debaixo das cobertas num 
dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado, roçando os pés sob as cobertas e a troca de cumplicidade, carinho e amor. Namorar é algo que vai muito além 
das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ele, é telefonar só para dizer boa 
noite, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, transar por amor, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter alguém para amar. Já dizia o poeta que "amar se aprende amando" e se seguirmos seu raciocínio, esbarraremos na lição que nos foi passada nas décadas passadas: relação é sinônimo de desilusão. 
O número avassalador de divórcios nos últimos tempos, só veio a confirmar essa tese e aqueles que se divorciaram (pais e mães dos adeptos do tribalismo), vendem na maioria das vezes a idéia de que casar é um péssimo negócio e que uma relação sólida é sinônimo de frustrações futuras. Talvez seja por isso que pronunciar a 
palavra "namoro" traga tanto medo e rejeição. No entanto, vivemos em uma época muito diferente daquela em que nossos pais viveram. 
Hoje podemos optar com maior liberdade e não somos mais obrigados a "comer sal junto até morrer". Não se trata de responsabilizar pais e mães, ou atribuir um significado latente aos acontecimentos vividos e assimilados na infância, pois somos responsáveis por nossas escolhas, assim como o que fazemos com as lições que nos chegam. A questão não é causal, mas quem sabe correlacional. 
Podemos aprender amar se relacionando. Trocando experiências, afetos, conflitos e sensações. Não precisamos amar sob os conceitos que nos foram passados. Somos livres para optarmos.
E ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver um sentimento... É arriscar, pagar para ver e correr atrás da felicidade. É doar e receber, é estar disponível de alma, para que as surpresas da vida possam aparecer. É compartilhar momentos de alegria e buscar tirar proveito até mesmo das coisas ruins.
Ser de todo mundo, não ser de ninguém, é o mesmo que não ter ninguém também... É não ser livre para trocar e crescer... É estar fadado ao fracasso emocional e à tão temida solidão."

sábado, 14 de agosto de 2010

E, se é assim que vou cuidar desse amor,
com esse “não estar” e um desdém elegante,
quem sabe agora eu não aprenda que o gostar é assim, muitas vezes começa sem querer, quase como uma metáfora...
"Te amo", ela diz, mas ele não acredita, mesmo sabendo que ela não mente. Ela faz declarações de amor com a mesma tranqüilidade que acende um cigarro depois do café ou come um prato de filé com fritas. Aos cinqüenta anos um homem já tem opinião formada sobre o que é o amor e ele sabe que uma pessoa capaz de dizer te amo de forma tão natural apenas pensa sentir o que diz. "Você acha que me ama", ele responde. Ela rodopia o corpo leve, inescrupuloso, e sai, batendo a porta do apartamento. Na esquina da rua se vira e acena para ele, que recua um passo da janela, se protegendo atrás das cortinas. Ela espera alguns segundos, ele reaparece e acena de volta com um gesto duro e frio como um espasmo. 
Ela levanta de leve os ombros, dá meia-volta e dobra a esquina. 
Ele se senta na poltrona perto da janela, acende um cigarro e olha a fumaça. 
Ele achava que me conhecia. Dizia que eu pensava que o amava. Acreditava me conhecer mais do que eu mesma. Sabe como é, coisa de homem que acha que já viveu tudo. Na época ele preparava uma tese de mestrado sobre o amor. Algo sobre manifestações amorosas à luz da sociedade pós-moderna. Acho que ele ia ter um bocado de trabalho. Na primeira vez que transamos, ele jurou que me amaria pra sempre se eu continuasse fazendo sexo oral nele daquele jeito. Ali eu percebi que ele ia ter que pesquisar muito pra desenvolver uma tese convincente. Eu não acho que um homem que jura amor eterno a uma mulher só pelo jeito que ela chupa ele entenda realmente do assunto. Talvez ele só entenda mesmo de sexo oral. O que, cá pra nós, não deixa de ser uma vantagem. O cheiro dela. É um cheiro que ele não sabe explicar, um cheiro impossível, que ele só sente quando não sente direito, só percebe quando não presta atenção, misturado com cheiro de rosa, incenso, creme hidratante e chiclete de canela, que ela gruda nas costas da mão quando toma suco de beterraba com laranja. "Pra saúde", ela diz, brindando o copo num outro imaginário, e bebe o conteúdo quase de um gole só, de olhos fechados para não sentir o gosto. Abre um sorriso satisfeito, desfaz a careta refletida no vidro do copo, leva a mão à boca e resgata o chiclete ainda úmido.
Um dia peguei na mesinha de cabeceira da cama dele uma matéria de jornal: "Machos e fêmeas: o poder do cheiro nas relações amorosas". Ali explicava que homens mais velhos se interessam por mulheres mais novas por causa do cheiro delas. É que essas mulheres, como as fêmeas de qualquer espécie, exalam um cheiro mais forte, e isso compensa a perda progressiva do olfato dos homens mais velhos, o que também acontece aos machos de qualquer espécie. Achei aquilo tudo muito primata pro meu gosto, mas entendi porque ele ultimamente andava cheirando as minhas calcinhas.Os dois primeiros anos deles juntos são ótimos. Ele gosta da juventude dela, do seu jeito apressado de encarar as coisas. Olha para ela e se lembra dele.
Sabe quando uma pessoa te olha tão através de você que alcança aquilo que está lá atrás e nem você enxerga mais? Pois é, não foram poucas as vezes em que ele me olhou assim. Uma vez eu virei pra trás e vi que não tinha ninguém. Achei divertido, mas foi aí que comecei a entender sem ainda saber: eu já estava só. "Sinto uma certa pressa", ela diz. "De quê?", ele quer saber, mas ela não sabe responder. Ele gosta de palavras, explicações, e algumas ela não sabe dar. 
Eu gostava da maturidade dele. Daquele jeito pouco apressado de olhar o mundo. Os cabelos grisalhos, os olhos por trás dos óculos, a calma, principalmente a calma. Uma calma típica dos que sabem e não têm medo disso, dos que sabem que nem sempre foi assim. Era aquela calma dele que eu procurava, mas eu tinha pressa, muita pressa de encontrá-la. E foi justamente aquela calma que um dia começou a ocupar espaços desconhecidos em mim e me revelou uma solidão imensa, só minha: a solidão de mim. Tive medo, muito medo, do silêncio. Era como se de repente não houvesse mais nada além das paredes daquele apartamento.Ele a abraça. Eles transam. Ela vai embora, levando a imagem dele refletida na vitrine.
Enchi a casa de espelhos, na esperança de que muitos de nós ocupassem espaços nos quais não conseguíamos mais circular. Eu já não conhecia mais os caminhos, não era capaz de me distinguir daqueles reflexos, não sabia mais que direção tomar. Minha vida virou um labirinto povoado de fantasmas de nós dois. Quando os aços dos espelhos passaram a ser minha única realidade, fui embora.
Hoje é segunda-feira de carnaval. Pierrôs, colombinas, melindrosas, pandeiros e cuícas se misturam no Largo dos Guimarães e eu aqui, relatando um fato a fria distância, como se a história nunca tivesse sido minha. Faz tempo que ela foi embora e ainda sinto uma saudade alucinada de nós. Um fantasma vira aquela mesma esquina ali embaixo há meses e quanto mais me escondo atrás das cortinas, quanto mais cigarros acendo tentando moldar com a fumaça uma outra imagem que não a dela, mais me aflijo neste apartamento incompleto. O apartamento está em pedaços. Os espelhos aumentam um vazio que parece não ter fim, perpetuam este espaço no qual me perco e eu aqui, sentado nesta poltrona, desejando vê-la surgir de dentro deles e dizer que tudo não passou de um inocente pavor.

Outro dia, era uma segunda-feira de carnaval, cuícas, pierrôs, pandeiros, colombinas, melindrosas, se misturavam no Largo dos Guimarães. Senti saudades. Às vezes tenho vontade de voltar e explicar o pavor que senti.